Folha de S. Paulo


Análise: A Lula, o trabalho sujo

A julgar pelo conjunto do programa eleitoral gratuito na TV para presidente que estreou nesta terça-feira (19), o Brasil não vai nada bem desde que Lula saiu. Mesmo na versão oficial.

Enquanto Aécio Neves (PSDB) fez o óbvio, ao dizer que "o Brasil piorou" com Dilma Rousseff (PT), a presidente se apoiou largamente nos feitos de Lula para pedir mais quatro anos.

O próprio Lula teve de suplicar outra chance para sua criatura, logo na sequência de uma lista de problemas apresentados por Aécio: volta da inflação, baixo crescimento e, agora, diminuição no ritmo de criação de empregos. "O segundo mandato é sempre melhor que o primeiro", disse Lula. Em uma segunda chance, frisou, haverá mais "segurança e apoio" para governar.

Dilma fundiu seus quatro anos aos oito de Lula para citar números graúdos: 36 milhões saindo da miséria e 42 milhões ascendendo à classe C.

A Lula, que entregou o Brasil a Dilma com crescimento de 7,5%, o maior em 25 anos, coube o trabalho sujo. Além de pedir outra chance, o petista usou uma crise internacional de seis anos atrás para justificar o fato de o Brasil estar crescendo menos de 1% neste ano, com inflação ao redor de 6,5%.

Na propaganda, não interessa o fato de vários outros emergentes terem voltado a avançar rapidamente. A peça petista também se esforçou em humanizar Dilma: ela sabe cozinhar, passeia com o cachorro e fala errado.

"'Ocê' vê que melhorou", disse Dilma quando apresentadas imagens entregando diplomas de cursos e chaves para clientes do Minha Casa, Minha Vida.

Como não podia deixar de ser, Eduardo Campos, morto na semana passada, acabou aparecendo nas peças de PT e PSDB. Para Aécio, era um "amigo". Para Lula, "um filho".

A propaganda do PSB, partido de Campos, foi inteira em homenagem ao candidato morto. Com Marina Silva, a substituta, aparecendo só discretamente.


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