Folha de S. Paulo


Youssef pagava contas e dava dinheiro a parlamentares, diz contadora

A contadora Meire Poza, que trabalhou para o doleiro Alberto Youssef, confirmou nesta quarta-feira (13) ao Conselho de Ética da Câmara que o doleiro repassou dinheiro ao deputado federal Luiz Argôlo (SDD-BA) e a outros parlamentares.

"O Alberto era um banco. Ele pagava contas, dava dinheiro, dava presentes, emprestava", afirmou a contadora, que presta depoimento ao conselho como testemunha de acusação no processo contra Argôlo. Ela confirmou que o deputado era sócio informal do doleiro na empreiteira Malga, conforme a Folha revelou na edição desta segunda (11).

Ela, porém, pediu para se limitar a falar apenas sobre Argôlo nesta sessão, mas, questionada, confirmou que houve pagamento a outros parlamentares.

A defesa de Argôlo tentou adiar o depoimento da contadora e disse cogitar pedir a anulação da oitiva, que acabou sendo mantida pelo presidente da sessão, deputado Júlio Delgado (PSB-MG).

Sobre a relação entre o doleiro e o deputado, a contadora disse: "Era carinhosa. Ele [Argôlo] era tratado como Bebê Johnson, porque era novinho".

Meire foi arrolada como testemunha de acusação no processo contra Argôlo no Conselho de Ética, movido por causa de suas relações com o doleiro Youssef.

O advogado Aluísio Régis, porém, argumentou que o relator do processo, deputado Marcos Rogério (PDT-RO), havia afirmado na sessão anterior que dispensava as testemunhas de acusação arroladas. Argumentou também que foi avisado do depoimento com menos de 24 horas de antecedência.

"Se vossas excelências optarem hoje por ouvir ela como testemunha de acusação, depois que o relator dispensou as testemunhas, ainda com intimação por telefone a menos de 24 horas da audiência, eu tenho sinceramente receio de que essa audiência aqui venha a ser anulada", disse o advogado.

Ele sugeriu incluir Meire como testemunha de defesa de Argôlo para ser ouvida posteriormente.

O relator rebateu dizendo que não havia encerrado a instrução processual e que o processo no Conselho de Ética não segue as mesmas regras do processo penal. O presidente da sessão manteve o depoimento.

Sem precisar a data nem valores, a contadora afirmou que Argolo esteve no escritório do doleiro em São Paulo para buscar dinheiro. Disse ser ela a responsável por providenciar a entrega, que atrasou. Segundo ela, o deputado adiou uma viagem para esperar o pagamento. "Como ele não recebeu na tarde que eu estava lá, sei que ele recebeu depois, não sei como foi entregue", afirmou.

Questionada posteriormente pelo advogado do deputado, ela afirmou supor que o repasse foi feito no dia seguinte e confirmou que Argolo vendeu um terreno ao Youssef.

Nesta quarta, Meire afirmou ainda que fez duas transferências bancárias, a pedido de Youssef, para pessoas ligadas ao deputado. Uma delas foi no valor de R$ 60 mil a Manoelito Argôlo, parente do congressista. A outra, de R$ 47 mil, foi para uma pessoa chamada Elia da Hora, que já foi nomeada para trabalhar no gabinete de Luiz Argôlo na Assembleia da Bahia.

A contadora informou ainda que o deputado indicou duas empresas do Ceará para receberem recursos de Youssef. Ela foi responsável por emitir R$ 1 milhão a essas duas companhias. "Youssef e Argôlo tinham negócios em Fortaleza", disse.


Endereço da página: