Folha de S. Paulo


Análise: Dominantes, Bonner e Poeta não aceitam resposta evasiva

Na relação quase que diária –mas sempre apressada– com o batalhão de repórteres de jornais, rádios, TVs e portais, um político requisitado desenvolve rapidamente uma coleção de estratagemas para se desvencilhar de eventuais perguntas desconfortáveis.

Nem é tão difícil. As entrevistas "quebra-queixo" (aquelas em que o entrevistado fica cercado de microfones) são precariamente organizadas.

Como todos querem perguntar pelo menos uma vez, mas sabem que só quatro ou cinco temas serão encaixados, cria-se uma situação em que o entrevistado pode praticamente escolher o jornalista que merecerá sua atenção.

Se a pergunta do eleito não for de seu interesse, basta dizer qualquer coisa rápida relacionada ao assunto e virar o olhar para o próximo credenciado ávido por encaixar um novo tópico. No tumulto, raramente o interrogador consegue recolocar uma questão e cobrar consistência.

Tem também aquele político que simplesmente ignora a pergunta que não lhe interessa e começa a falar sobre o que não foi perguntado.

E há ainda um tipo até mais ousado que, confrontado, tenta desqualificar o repórter. Uma covardia, pois este, sem interesse de virar ele próprio a notícia, estará sempre prejudicado para o embate. Variações sutis desses comportamentos também são notadas nos programas de entrevista política que algumas TVs fazem no fim da noite.

É exatamente pela impossibilidade de o candidato lançar mão de qualquer um desses truques que as entrevistas do "Jornal Nacional" parecem tão diferentes. O básico.

Naquela bancada futurista, ao vivo, o domínio é 100% exercido pelo casal de entrevistadores, jamais pelo entrevistado. Além disso, William Bonner e Patrícia Poeta parecem imbuídos da boa missão de não aceitar evasivas.

Com Eduardo Campos, isso ficou novamente evidente. As perguntas sobre a indicação de sua mãe, Ana Arraes, e de outros parentes para cargos vitalícios foram sendo refeitas e refeitas até o nocaute: "O senhor não vê nada de errado?", insistiu Bonner, já pela terceira vez. "Não." Contra isso, não há "media training" que resista.


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