Folha de S. Paulo


Ex-diretor da Petrobras diz que não deu documentos a empresa holandesa

O ex-diretor da área internacional da Petrobras Jorge Zelada negou nesta quarta-feira (6) ter repassado para senhas internas da estatal para executivos da empresa holandesa SBM Offshore, fornecedora da estatal que está sob suspeita de pagar propina.

Zelada também afirmou não ter sido o responsável pela elaboração do resumo executivo que embasou a compra da refinaria de Pasadena (EUA) em 2006, mas disse que ficou sabendo das negociações na época. Ele voltou a sustentar que duas cláusulas que encareceram a compra não foram centrais para a conclusão do negócio.

No final de julho, uma investigação interna da Petrobras identificou que a senha pessoal do ex-diretor dá acesso a dois documentos sigilosos que foram repassados a executivos da empresa holandesa. Não se sabe se foram entregues apenas os documentos ou a senha para acessá-los. Os arquivos tratam do plano diretor de desenvolvimento integrado do pré-sal da Bacia de Santos e da contratação de uma embarcação da empresa McDermott, concorrente da SBM. A informação foi revelada pelo jornal "O Globo".

"A minha senha é de uso pessoal e o que eu reafirmo que não passei a minha senha para ninguém. Não acredito que alguém tenha usado a minha senha", afirmou Zelada durante depoimento na CPI mista da Petrobras. Ele afirmou ainda que tinha por hábito imprimir milhares de documentos para ler mas garantiu que nunca entregou nenhum papel a "entidades externas".

Em relação a uma viagem a vinícolas na Argentina –que teria sido paga pelo empresário Julio Faerman, suspeito de pagar propinas para obter contratos de locação para a SBM na Petrobras–, Zelada confirmou que ela de fato aconteceu, mas que foi paga com seus próprios recursos. O ex-diretor da estatal Renato Duque, que o acompanhou, também teria arcado com suas próprias despesas. Além dos executivos, seus familiares também os acompanharam.

Sobre a compra da refinaria de Pasadena, Zelada voltou a afirmar que, quando assumiu a diretoria da área internacional, em 2008, o processo de compra da primeira metade de Pasadena já havia sido concluída e a estatal brasileira disputava uma briga judicial com a empresa belga Astra Oil, detentora da outra metade da refinaria. Em 2006, quando a Petrobras comprou Pasadena, Zelada ocupava o posto de gerente-geral de empreendimentos da empresa.

Ele voltou a dizer que não considera as cláusulas "put option" e "Marlin" centrais para a conclusão do negócio. A "put option" determinava, em caso de discordância entre a Petrobras e sócia belga Astra Oil, que a estatal seria obrigada a comprar o restante da refinaria. A "Marlim" daba à sócia uma garantia de rentabilidade mínima de 6,9% ao ano. As duas cláusulas foram responsáveis pelo prejuízo de U$ 530 milhões na compra da refinaria americana.

"Não me causou surpresa, não me pareceram centrais para este tipo de negócio. Mas estou falando a posteriori, quando tomei conhecimento das cláusulas", disse.

Em março deste ano, a presidente Dilma Rousseff criticou a exclusão das cláusulas do resumo técnico que embasou a compra da refinaria. A presidente classificou o documento como "técnico e juridicamente falho". Segundo Dilma, se as regras estivessem evidenciadas, os conselheiros da Petrobras não teriam avalizado o negócio. Na época, Dilma era presidente do Conselho Administrativo da estatal.

Indicado pelo PMDB para o cargo após a saída do antecessor Nestor Cerveró, Zelada assinou o resumo de compra dos 50% remanescente da refinaria em 2008. Ele, no entanto, afirmou que quando assumiu a diretoria o documento já estava pronto e só coube a ele assiná-lo. "Eu não era diretor naquela ocasião. Este resumo executivo já estava elaborado antes da minha entrada. Não houve nenhum ato de gestão desde que eu entrei", disse o ex-diretor.

Para Zelada, a Astra Oil foi a responsável pelo fim da sociedade com a Petrobras em Pasadena. Ele afirmou que quando o conselho administrativo se recusou a autorizar a compra da segunda metade, a Astra abandonou a gestão da refinaria. "Aí a Petrobras decidiu entrar com o processo de arbitragem para retomar a sociedade", lembrou Zelada. "A Petrobras queria encerrar o assunto com a arbitragem."


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