Folha de S. Paulo


Presidente do Santander diz que analista fez 'coisa errada'

O presidente mundial do Banco Santander, Emilio Botín, afirmou nesta terça-feira (29) em palestra no Rio que o boletim interno que afirmava que o eventual sucesso eleitoral da presidente Dilma Rousseff produzirá uma piora na economia do Brasil não reflete a posição da instituição, e sim de um analista, que ele disse ter sido o responsável pela análise.

O Santander, segundo o executivo, demitiu o funcionário. "Enviamos uma carta à presidente. A pessoa tinha que ser demitida porque fez coisa errada", disse Emilio Botín a jornalistas. "[O informe] É a opinião de um analista, não é a opinião do Santander. Nós tomamos as medidas necessárias", segundo informações do portal UOL.

A análise da instituição financeira, enviada a clientes de alta renda no dia 1º de julho, dizia que, se Dilma subir nas pesquisas, juros e dólar vão subir, e a Bolsa, cair.

A opinião já frequentava o mercado financeiro de forma difusa, mas nunca assumida, e lembra o "lulômetro", termo criado por um analista do banco Goldman Sachs, na eleição de 2002, que usou uma combinação de indicadores para prever a cotação futura do dólar disparando caso o petista fosse eleito.

Sobre o boletim, Emilio Botín disse que "essas coisas acontecem". "O Santander tem 80 mil empregados. Isso pode acontecer com outros bancos. O importante é que, quando uma pessoa falha e faz algo mal feito, o banco toma suas medidas", ressaltou.

A presidente Dilma classificou a análise do banco de "inadmissível" e "lamentável", tratando-se, segundo ela, de mais uma "especulação" do período eleitoral.

"A característica de vários segmentos é especular. Sempre que especularam, não se deram bem. (...) É inadmissível para qualquer país, principalmente um país que é a sétima economia do mundo, aceitar qualquer nível de interferência de qualquer integrante do sistema financeiro, de forma institucional, na atividade eleitoral e política", afirmou a presidente na sabatina realizada em parceria entre Folha, UOL (ambos do Grupo Folha), SBT e rádio Jovem Pan nesta segunda (28).

Dilma subiu o tom de voz na sabatina, numa demonstração de insatisfação com o episódio, e afirmou: "Eu vou ter uma atitude bastante clara em relação ao banco", evitando, porém, dizer qual.

"O presidente do banco no Brasil [Jesús Zabalza] já comunicou as autoridades que ficamos muito chateados que isso tenha acontecido e já enviou uma carta à presidente Dilma", afirmou Botín. Para Dilma, contudo, o pedido de desculpas foi "protocolar".

Procurado, o Santander informou que não iria se pronunciar sobre o episódio, e disse que todas as medidas estavam sendo tomadas pela instituição, em referência à demissão do analista responsável pela análise.

O informe do banco causou a ira dos petistas, e foi usado pelos candidatos à Presidência da oposição, Aécio Neves (PSDB) e Eduardo Campos (PSB), para atacar a política econômica do governo.

Para o ex-presidente Lula, o autor do informe do Banco Santander "não entende porra nenhuma de Brasil".

AÉCIO IRONIZA

Aécio disse que o governo não contestou a avaliação do banco -apenas agiu para que os responsáveis fossem demitidos.

"O governo deveria estar muito mais preocupado em reagir positivamente do que punir um funcionário. O terrorismo foi o governo quem instalou no país. Ao invés de estimular a economia, pedem a punição."

Aécio ironizou membros do PT que acusaram o PSDB de estimular o comunicado do banco ao afirmar que a oposição não está "infiltrada" no Santander. "Se eles forem demitir todos que fazem avaliações negativas do governo, vão ter que demitir muita gente."


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