Folha de S. Paulo


Três anos após 'faxina ética', Dilma reabilita Carlos Lupi

Quase três anos após sair do governo federal na "faxina ética" promovida pela presidente Dilma Rousseff, o ex-ministro Carlos Lupi (PDT) se reabilita frente à candidata à reeleição. Disputando uma cadeira do Senado no Rio, o pedetista foi elogiado nesta quinta-feira (24) pela presidente e será o principal candidato do Planalto para a vaga no Estado.

Lupi tornou-se candidato a pedido do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, após o PMDB abrir a vaga em sua chapa para o vereador César Maia (DEM), que apoia o senador Aécio Neves (PSDB).

"O Lupi é uma pessoa muito especial. Ele é um coração bom, um homem de bem", disse Dilma, durante evento da campanha do governador Luiz Fernanda Pezão (PMDB), na Baixada Fluminense.

O presidente do PDT foi nomeado ministro do Trabalho no início do governo Dilma, em 2011. Acabou demitido no fim do mesmo ano, após suspeitas de irregularidades em contratos com ONGs. Ele também foi acusado de ter acumulado dois cargos públicos irregularmente por cinco anos, prática vedada pela Constituição.

Ao analisar o seu caso, a Comissão de Ética Pública da Presidência da República sugeriu, pela primeira vez, a exoneração de um ministro. Saiu em dezembro, sendo a última baixa da "faxina ética" no governo federal, como ficou conhecida a demissão de seis ministros suspeitos de corrupção.

Durante a crise que culminou em sua demissão, ele chegou a afirmar que só sairia do ministério "a bala". A declaração soou mal no Planalto, que viu a frase como um ultimato a Dilma. Dias depois, o então ministro buscou minimizar a saia justa.

"Presidente Dilma, desculpa se eu fui agressivo. Eu te amo. Desculpe", disse, em depoimento na Câmara dos Deputados.

Quase três anos depois, Dilma cobrou a manutenção da declaração de amor.

"O Lupi é nosso candidato ao Senado, que já fez várias declarações de amor. E eu espero que ele mantenha as declarações de amor que fez ao longo da vida", disse Dilma, durante o evento desta quinta-feira (25).

O ex-ministro, em seu discurso, citou as origens brizolistas de Dilma, e afirmou que, "na política, é necessário lealdade e gratidão".

"Tenho muito orgulho, presidente Dilma, de ter sido seu ministro durante um ano. Foram os melhores dias da minha vida", disse o ex-ministro.

A candidatura de Lupi foi decidida nos últimos dias de prazo para registro de candidatura. O PDT fazia parte da chapa de Pezão, indicando inclusive o candidato a vice-governador, Felipe Peixoto (PDT). Após a entrada de Maia na chapa, em lugar do ex-governador Sérgio Cabral (PMDB), Lupi decidiu lançar uma candidatura "avulsa" ao Senado.

Sérgio Lima-14.nov.2013/Folhapress
O ex-ministro do Trabalho e presidente do PDT, Carlos Lupi
O ex-ministro do Trabalho e presidente do PDT, Carlos Lupi

O movimento foi apoiado pelo ex-presidente Lula, preocupado com a falta de candidatos expressivos da base aliada para o cargo. O único que apoiaria Dilma seria o deputado Hugo Leal (Pros), na chapa do deputado Anthony Garotinho (PR), candidato ao governo do Rio.

Temendo contestações na Justiça Eleitoral, o PDT saiu da chapa de Pezão –a vice ficou com o senador Francisco Dornelles (PP). Leal acabou desistindo de disputar a vaga ao Senado e deu lugar à deputada Liliam Sá (Pros).

Durante o evento desta quinta-feira (25), Lupi teve afagos também do prefeito do Rio, Eduardo Paes (PMDB). Irritado com a escolha de Maia, seu adversário político, para tentar a vaga ao Senado pela chapa de Pezão, o prefeito adotou Lupi como seu candidato.

"Meu senador Lupi, é o homem que a gente vai votar, vai pedir voto, fazer muita campanha, porque é o senador da Dilma e do Pezão", disse o prefeito, que recebeu um sorriso amarelo do governador, que apoia Maia.

Não é a primeira vez que Paes ajuda a reabilitar Lupi. Três meses após ser demitido por Dilma, o prefeito o nomeou assessor especial de seu gabinete para lhe dar "status". Exonerou o pedetista dias depois, após a Folha revelar a decisão.

"Estava olhando para um ex-ministro, presidente de partido. Não pesei de maneira adequada o fato de ele ter saído do governo da Dilma por um escândalo. Pensei: 'Um ex-ministro, uma figura representativa, vai voltar para um Centro de Assistência Social da prefeitura em Santa Cruz?' Pelo lado mais humano, sem avaliar a dimensão política, nomeei ele assessor do meu gabinete para dar um status. Foi uma falha. Mas o problema é quando se insiste no erro", disse Paes, em outubro de 2012.


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