Folha de S. Paulo


Vida de Snowden será sombria, diz jornalista que ajudou a revelar caso

O correspondente de segurança e inteligência do diário britânico "The Guardian", Ewen MacAskill, afirmou nesta sexta-feira (25) que "a vida parece sombria" para o ex-agente da NSA (Agência de Segurança Nacional dos EUA, na sigla em inglês) Edward Snowden. MacAskill foi um dos jornalistas a quem Snowden confiou arquivos que revelavam monitoramento de dados e telefonemas feito pelos Estados Unidos.

"Ele seguiu seus princípios e pagou um grande preço", disse MacAskill durante palestra no congresso da Abraji (Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo), na zona sul de São Paulo.

Para MacAskill, tudo indica que países como Brasil e Alemanha não cederiam asilo ao ex-agente, asilado na Rússia desde julho de 2013, e um retorno aos Estados Unidos também é improvável, já que Snowden poderia ser condenado a pena perpétua. "O que ele divulgou incrivelmente gera manchetes até hoje, mas quando o fogo baixar ele deve continuar na Rússia, sozinho", afirmou.

O jornalista encontrou Snowden pela primeira vez em Hong Kong e recebeu 6.000 documentos que revelavam um esquema de espionagem do governo americano em países de todo o mundo. "Ele tinha 29 anos na época, mas parecia ter 21 ou 22. Agora ele tem 31. Era muito tímido, nas entrevistas recentes está bem mais preparado", afirmou.

Além de MacAskill, Snowden entregou documentos aos americanos Glenn Greenwald e Laura Poitras. MacAskill diz que, desde então, é espionado pela NSA. "Eu não pensava que as agências de segurança iam incomodar. Mas não sou mais inocente", disse, e recomendou: "Eu acho que todos os jornalistas aqui deviam usar programas criptografados".

"Se uma fonte chegar a você com um assunto que possa incomodar o governo, o governo não vai apenas te perguntar quem é. Ele vai ouvir suas ligações pelos próximos três meses, ele vai por escuta em seu celular –que funciona mesmo que o aparelho esteja desligado– e ele vai conferir seu e-mail. Vai descobrir muito rápido quem é a fonte", acrescentou.

A jornalista do programa "Fantástico" ("TV Globo"), Sônia Bridi, também palestrou sobre o tema. Através de Greenwald, Bridi divulgou diversos documentos que apontavam espionagem da NSA no governo brasileiro. Em julho, ela entrevistou Snowden.

"A Alemanha tem uma agência de espionagem. O nosso governo espiona também. Mas vocês acham que eles gostam de serem espionados? Por isso que Snowden diz: 'quando as pessoas são espionadas, elas mudam de comportamento'", disse.


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