Folha de S. Paulo


Oposição critica TCU por eximir Dilma de responsabilidades sobre Pasadena

Deputados da oposição criticaram nesta quarta-feira (23) o conteúdo do parecer do ministro José Jorge, do Tribunal de Contas da União, que propõe em seu relatório que os conselheiros da Petrobras não sejam responsabilizados pelas irregularidades cometidas durante o processo de compra da refinaria de Pasadena, nos Estados Unidos. O relatório sugere a punição de diretores da estatal por irregularidades na operação, estimando um prejuízo de cerca de US$ 700 milhões (R$ 1,5 bilhão).

Para o deputado Rubens Bueno (PPS-PR), Dilma, que na época era presidente do Conselho de Administração do Conselho da Petrobras, deve ser responsabilizada por seus atos. "Só basta o ministro relator olhar a lei das SAs [que dispõe sobre as sociedades por ações] que obriga não só a diretoria, mas sobretudo o conselho da empresa a tomar todos os cuidados, porque é o último a dar o seu parecer e avalizar a operação. Neste caso, a então presidente do Conselho de Administração Dilma Rousseff é responsável pelos seus atos", disse.

O deputado Fernando Francischini (SD-PR) avalia que o parecer "é mais político do que técnico" e afirmou que será preciso avaliar se houve pressão do governo sobre o ministro José Jorge.

O processo que apura as irregularidades na aquisição da refinaria está sendo votado pelo TCU na tarde de hoje. O parecer de José Jorge pode ainda ser alterado por algum dos outros oito ministros do Tribunal de Contas. Se a proposta do relator for a vencedora, a presidente e outras nove pessoas (entre elas seis ministros e ex-ministros) que participaram das reuniões como conselheiros aprovando as transações ficam isentas de punição no momento.

O líder do PT no Senado, Humberto Costa (PE) defendeu a posição do ministro ao inocentar a presidente Dilma, mas disse que o ministro do TCU deveria ter se declarado impedido de analisar o caso. José Jorge foi ministro de Minas e Energia do governo Fernando Henrique Cardoso, além de ser antigo aliado do PSDB.

"Ele procura macular a aquisição da refinaria de Pasadena e tenta responsabilizar diretores da Petrobras. É um relatório parcial. Ele deveria ser declarar impedido nesse processo", afirmou.

Para o petista, o primeiro relatório sobre a compra de Pasadena elaborado pelo TCU deveria ter sido mantido pelo tribunal, e não a versão apresentada por José Jorge. "O ministro jamais poderia incriminar a presidente Dilma porque não havia qualquer indício de cometimento de irregularidades por parte dela. Ele fez o que era obrigação dele. O primeiro relatório engavetado pelo ministro era favorável à compra da refinaria", afirmou Costa.

Divulgação
Vista aérea da refinaria de Pasadena, no estado do Texas (EUA), cuja compra pela Petrobras virou alvo de investigação
Vista aérea da refinaria de Pasadena, no estado do Texas (EUA), cuja compra pela Petrobras virou alvo de investigação

CPMI DA PETROBRAS

Convocado para depor nesta quarta-feira (23) na CPI mista da Petrobras, o secretário de Controle Externo da Administração Indireta do Tribunal de Contas da União (TCU), Osvaldo Perrout, pediu formalmente à CPI mista da Petrobras para que seu depoimento fosse realizado a portas fechadas, apenas com a presença de parlamentares integrantes do colegiado. Perrout é um dos responsáveis pela área técnica do tribunal que elaborou um parecer usado para subsidiar o voto do ministro.

Perrout foi convocado pelo colegiado para explicar a produção de dois relatórios técnicos contraditórios sobre a compra da refinaria. Um deles responsabilizava Dilma e os outros ex-integrantes do Conselho de Administração da estatal, e o outro eximia o grupo das responsabilidades.

O secretário alegou que o processo de investigação sobre a compra da refinaria tramita sob sigilo e por isso ele não poderia responder publicamente sobre o caso pois poderia ser, de acordo com regras do funcionalismo público, até ser demitido. O presidente da comissão, senador Vital do Rêgo (PMDB-PB), acatou o pedido e determinou a saída de todos os presentes, exceto dos parlamentares.

Autor do requerimento de convocação do secretário, Francischini criticou a decisão do colegiado e afirmou que um acordo feito entre ele o TCU foi quebrado. "Esse meu requerimento de hoje foi um acordo que eu fiz com a assessoria do TCU totalmente descumprido. Primeiro, meu requerimento que estava aprovado trazia o auditor que dizia que a presidente Dilma Rousseff era responsável pelo dano causado à União e trazia também um diretor que dizia que a presidente não tinha responsabilidade", contou.

Segundo o parlamentar, o TCU e pessoas ligadas ao governo o procuraram para pedir a substituição dos depoentes pelo secretário de Controle Externo para "manter a imagem do TCU e a credibilidade das investigações". "Fiz esse acordo com o TCU achando que teríamos uma posição técnica trazendo qual era a avaliação e o TCU ao meu ver, está 'afinando', não está conseguindo ser um órgão independente e técnico", disse.

Francischini irá reapresentar os requerimentos de convocação do auditor Alberto Henriques de Araújo Pereira e o diretor Bruno Lima Caldeira de Andrada.


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