Folha de S. Paulo


Prefeito petista depõe no Conselho de Ética em processo contra André Vargas

O prefeito de Apucarana, Paraná, Carlos Alberto Gebrin Preto (PT), conhecido como Beto Preto, prestou depoimento nesta terça-feira (15) como testemunha de defesa no processo contra o deputado André Vargas (sem partido-PR) no Conselho de Ética da Câmara dos Deputados. Em pouco mais de meia hora, ele afirmou ter conversado com o parlamentar sobre o empréstimo de um avião para uma viagem ao Nordeste mas negou que tenha ajudado Vargas a encontrar a aeronave.

Vargas responde a um processo por quebra de decoro parlamentar no colegiado devido ao seu envolvimento com o doleiro Alberto Youssef, acusado de um esquema bilionário de lavagem de dinheiro. Preto afirmou conhecer Youssef de nome porque ele é dono do hotel Blue Tree em Londrina e disse que nunca o conheceu pessoalmente e só soube da sua atividade como doleiro depois que o caso foi publicado pela imprensa.

Segundo Preto, Vargas e ele se encontraram no Natal de 2013 para discutir questões ligadas ao município e para assinar uma ordem de serviço de pavimentação asfáltica na cidade. Nesta ocasião, o deputado relatou que iria viajar com a família no início de janeiro para João Pessoa (PB) mas estava com dificuldades de encontrar passagens aéreas.

"Ele esteve comigo no Natal e sabia das suas dificuldades em conseguir passagem. Até tentei verificar se alguém na região, algum empresário, um agropecuarista que viesse a ter uma aeronave poderia facilitar para que ele pudesse pagar o combustível para o deslocamento. Depois ele falou que não precisaria mais porque já tinha conseguido o favor com outra pessoa e que ele iria pagar o combustível", afirmou o prefeito.

Pedro Ladeira/Sérgio Lima/Folhapress
O vice-presidente da Câmara, André Vargas (PT-PR), e o doleiro Alberto Youssef
O vice-presidente da Câmara, André Vargas (PT-PR), e o doleiro Alberto Youssef

Preto disse que não chegou a fazer os contatos porque o fim do ano é uma época movimentada na prefeitura e ele acabou sem tempo para ajudar o colega. Logo depois, Vargas relatou a ele que já havia conseguido a aeronave emprestada de um empresário.

Em março, a Folha revelou que Vargas viajou em um jatinho emprestado por Youssef para passar férias em João Pessoa, Paraíba, com sua família. Em resposta ao jornal, o deputado afirmou na ocasião conhecer o doleiro há mais de 20 anos e disse ter pedido o avião porque voos comerciais estavam muito caros no período, mas alegou ter pago o combustível do jato Learjet 45.

No entanto, no dia seguinte à publicação, ele mudou sua versão e disse que Youssef havia custeado as despesas com o voo e afirmou só ter aceitado embarcar porque imaginou que se tratava de uma "carona". Segundo ele, quando soube que era um frete exclusivo, pediu à sua secretária para reembolsar Youssef das despesas de combustível, estimadas por ele em R$ 20 mil. "Entretanto, a proposta de reembolso foi negada", afirmou sua assessoria em nota na época, acrescentando que o deputado teria sido informado dessa recusa no dia em que o caso foi revelado.

O prefeito afirmou conhecer Vargas há mais ou menos 20 anos e relatou que mantém com ele uma relação política já que o deputado representa os municípios do Estado, principalmente do Vale do Ivaí, onde fica Apucarana.

Para o relator do processo, deputado Júlio Delgado (PSB-MG), o prefeito teve pouco a acrescentar ao processo já que não tem participação e nem conhecimento sobre as acusações feitas a André Vargas. Como a Câmara terá apenas um recesso não oficial em julho, o prazo do processo continuará sendo contado nos próximos dias. Dessa forma, Delgado pretende concluir até o dia 29 de julho a oitiva das outras seis testemunhas de defesa que ainda faltam ser ouvidas.

O relator irá convidar Vargas a depor no dia 29 e terá mais dez dias úteis para concluir seu relatório e apresentar o seu voto ao Conselho de Ética. Ele espera ser possível votar o parecer na primeira semana de agosto, quando a Câmara realizará um esforço concentrado. No entanto, Delgado afirmou que pode estender um pouco o prazo para ouvir o deputado. "Nós não podemos estender para a semana do esforço concentrado porque teremos membros do conselho aqui e nosso parecer precisa ser votado e precisaremos de quórum", disse. O Conselho precisa de, pelo menos, 11 deputados presentes para deliberar.

Hoje foi a terceira tentativa de ouvir as testemunhas de defesa apresentadas por Vargas. Elas serão convidadas novamente para comparecer nas próximas semanas. O empresário Roberto Vezozzo informou que não poderá comparecer mas aceitou responder aos questionamentos por escrito. Já o advogado Luís Gustavo Flores, afirmou, segundo a secretaria do colegiado, que não irá prestar depoimento porque, sendo advogado de Youssef, deverá guardar sigilo sobre o que ele sabe.

A defesa de Vargas trocou hoje o nome de três testemunhas no processo pela dificuldade em ouvir as indicadas previamente. Foram indicados Paulo Roberto de Souza e Souza, capitão de Fragata da Marinha Brasileira e Denir Campos, coordenador operacional da Arquidiocese de Aparecida. Eles substituirão Cleide Amorim, chefe de gabinete do deputado e João Carlos Peres, prefeito de Alvorada do Sul, Paraná.


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