Folha de S. Paulo


Com o fim do Mundial, manifestantes miram eleições

Sai o mote contra a Copa e entra o contra a eleição. O término do torneio esportivo no Brasil não significa o fim dos protestos pelo país, ameaçam organizadores de alguns grupos que fizeram manifestações antes e durante o Mundial.

Na nova agenda dos manifestantes, além do questionamento sobre "quem pagará a conta da Copa", estão incluídos boicotes a comícios de candidatos a presidente.

"Vamos fazer panfletagem nos locais onde os políticos farão discursos. Os protestos não vão parar", disse Igor Silva, 21, estudante de direito e um dos organizadores dos protestos divulgados pelas redes sociais chamados de "Contra a Copa", que reuniram vários grupos com diferentes pautas e chegaram a arregimentar cerca de 2.000 pessoas em atos entre janeiro e junho. Alguns deles acabaram em violência.

A FIP (Frente Independente Popular), que também atuou em protestos pelo país, iniciou no último sábado as discussões para futuras mobilizações. O primeiro item da pauta de debates foi o "Boicote à Farsa Eleitoral".

Atos da FIP costumam ter apoio de "black blocs" –que usam como tática de protesto a destruição do patrimônio público e privado.

Para evitar relação com partidos políticos, Silva disse que o "Contra a Copa" já abriu mão do apoio de dois grupos: da Anel (Assembleia Nacional dos Estudantes Livre), ligada ao PSTU, e do Juntos, que reúne a Juventude do PSOL. "Eles não devem mais participar dos atos", disse.

Segundo Silva, embora o foco agora seja a eleição, haverá futuros protestos criticando a Copa. "Vamos abordar o 'deslegado' da Copa, questionando quem vai pagar a conta".

As futuras manifestações devem pregar o voto não obrigatório e a democracia direta, sem a interferência de partidos políticos. O slogan "não vai ter voto" já aparece em páginas do Facebook.

Silva disse que os últimos atos contra a Copa foram esvaziados por causa da forte repressão policial. "A perseguição da polícia nos tirou da rua, mas acreditamos que as coisas vão mudar com o fim da Copa, quando os policiais estavam preocupados em manter a ordem".

O grupo diz que, além dos boicotes a comícios, está sendo organizado um grande ato em São Paulo para o dia 5 de outubro, data do primeiro turno eleitoral.

MORADIA

O Movimento de Trabalhadores Sem-Teto também disse que as invasões de terrenos e protestos vão continuar após a Copa do Mundo.

Segundo o líder do MTST, Guilherme Boulos, o próximo ato vai ocorrer na terça-feira (15), em Fortaleza, cidade que sedia a reunião dos Brics (cúpula das potências emergentes), que inclui Brasil, China, Rússia, Índia e África do Sul.

Desde a semana passada, sem-teto ocupam um terreno no bairro Paupina, que fica perto do estádio Castelão, que recebeu jogos da Copa.

Boulos disse que já há previsão de novas invasões pelo país. "A Copa foi um mote, mas não foi o início nem o fim da luta do movimento", disse.


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