Folha de S. Paulo


'Plínio era coerente, o que não é comum na política', diz José Serra

O ex-governador José Serra avaliou nesta quarta-feira (9) que o deputado federal Plínio de Arruda Sampaio era um político "bastante coerente com o que pensava e pregava, o que não é comum na política brasileira".

O tucano compareceu ao velório do militante de esquerda que morreu nesta terça-feira (9), aos 83 anos, por uma broncopneumonia que provocou a falência de múltiplos órgãos e sistemas.

Serra lembrou da amizade que tinha com Plínio e a convivência com ele no período do exílio, durante a ditadura militar. "É um amigo de muitos anos, desde os anos 1960. Nós convivemos muito no exílio e até moramos juntos, na volta ao Brasil nos empenhamos na criação de um partido novo, mas que não deu certo" afirmou. "E a partir de certo momento os rumos políticos se distanciaram, mas a relação de amizade e respeito, nunca", acrescentou.

O velório teve início às 8h na paróquia São Domingos, em Perdizes, na zona oeste de São Paulo. O enterro estava marcado para as 15h30, no cemitério do Araçá, também na zona oeste.

Além de Serra, compareceram ao velório o governador de São Paulo Geraldo Alckmin, a candidata do PSOL a sucessão presidencial, Luciana Genro, o deputado federal Jean Wyllys, o deputado federal Paulo Teixeira (PT-SP), o deputado estadual Adriano Diogo (PT-SP), entre outros.

O governador Geraldo Alckmin lembrou que o deputado federal "foi um brasileiro que dedicou sua vida à justiça social" e ressaltou que tinha um "laço afetivo" com Plínio. "Ele foi promotor público na minha cidade natal, Pindamonhangaba, e foi muito amigo do meu pai, nós também fomos colegas na Constituinte" disse.

A deputada federal Luiza Erundina (PSB-SP) ressaltou que o deputado era um político "coerente" e "fiel" aos seus princípios. Ela lembrou que, nas eleições na qual foi eleita prefeita de São Paulo, em 1988, disputou com Plínio a indicação do PT. "Foi uma disputa muito rica e, de lá para cá, nós convivemos com muita proximidade", disse.

Em missa em homenagem ao militante de esquerda, a mulher de Plínio de Arruda Sampaio, Marietta, lembrou que o marido acreditou e atuou desde jovem em busca de uma sociedade mais justa.

"Ele acreditava na participação política como uma forma de caridade superior", disse a esposa, lembrando da trajetória do político ligado à Igreja Católica.

O senador Eduardo Suplicy (PT-SP) observou que Sampaio deixa como legado uma vida pública de "correção" e "transparência". "Ele nos deixa um exemplo formidável de alguém que nunca deixou de lado a busca da verdade, da honestidade e da justiça social" disse.

LULA

O ex-presidente Lula não compareceu ao velório, mas enviou uma mensagem à família. No texto, afirma que recebeu com tristeza a morte. "Plínio dedicou toda sua vida à luta pela igualdade, enfrentando a ditadura na fundação do PT e no apoio sempre presente aos movimentos sociais".

O deputado federal, que deixou o PT em 2005, foi o responsável pelas propostas sobre reforma agrária no programa de governo de Lula na campanha de 2002, na qual foi eleito.

A ausência do petista foi criticada pelo deputado federal Chico Alencar (PSOL-RJ). "Foi uma insensibilidade que o Lula de antigamente, que eu conheci, não tinha. Fiquei muito triste, mas cada um sabe a quem dedicar o seu tempo, o seu carinho e o seu afeto", disse.

HISTÓRIA

Plínio foi candidato a presidente da República em 2010, pelo PSOL, e ficou em quarto lugar, com 886 mil votos, atrás de Dilma, do próprio Serra e de Marina Silva.

Plínio estava internado havia mais de um mês para tratar um câncer nos ossos e morreu por volta das 15h, no hospital Sírio-Libanês. No dia 26 de julho, Plínio completaria 84 anos de idade.

Ícone da esquerda católica, Plínio mantinha boas relações com políticos de partidos antagônicos, como PT e PSDB, e era um dos poucos remanescentes da política pré-ditadura militar.

Em 1964, quando o golpe derrubou o presidente João Goulart, era deputado pelo antigo PDC (Partido Democrata Cristão) e relator da Comissão Especial de Reforma Agrária.

Teve os direitos políticos cassados pelo AI-1 (Ato Institucional) e foi obrigado a se exilar no Chile. Depois fez mestrado em Cornell, nos EUA. Voltou ao Brasil em 1976.

Em 1981, Plínio se filiou ao PT, do qual passou a ser um dos mais importantes formuladores. Voltou à Câmara em 1985, como suplente de Eduardo Suplicy, e se reelegeu no ano seguinte para a Assembleia Constituinte, no mandato entre os anos 1987 e 1990.

Participou da coordenação da primeira campanha de Lula à Presidência, em 1989. No ano seguinte, disputou o governo de São Paulo pelo PT e ficou em quarto lugar.

Plínio deixou o PT em 2005, desiludido com o escândalo do mensalão. Ajudou a fundar o PSOL e disputou o governo de São Paulo no ano seguinte.

Em 2010, aos 80 anos, lançou-se em uma espécie de anticandidatura à Presidência pelo PSOL.

Com tiradas bem-humoradas, virou atração dos debates presidenciais, mas não conseguiu se aproximar de Dilma Rousseff (PT), José Serra (PSDB) e Marina Silva (PV) nas pesquisas.

Com a saúde debilitada, ele acompanhou de longe a desistência de Randolfe Rodrigues e a escolha de Luciana Genro como nova candidata do PSOL ao Planalto.


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