Folha de S. Paulo


Juiz cancela videoconferência de Youssef no Conselho de Ética

O juiz federal do Paraná Sérgio Moro cancelou o depoimento do doleiro Alberto Youssef no Conselho de Ética da Câmara que seria transmitido por videoconferência nesta quarta-feira (02). O doleiro está preso na carceragem da Polícia Federal em Curitiba (PR) desde o dia 17 de março.

Pivô de um esquema bilionário de lavagem de dinheiro, Youssef deveria explicar sua relação com o deputado André Vargas (sem partido-PR) e o empréstimo de um jatinho usado por Vargas para viajar com sua família para uma praia no Nordeste.

O cancelamento foi motivado por uma petição apresentada pelos advogados de Youssef afirmando que ele não responderia a nenhum questionamento na oitiva. O juiz entendeu, então, que não havia condição de autorizar a logística para viabilizar o depoimento sem ter a garantia de que o doleiro iria falar. Youssef teria que ser transferido da ala onde está para outra unidade prisional onde há infraestrutura para a videoconferência.

Sérgio Lima - 18.out.2005/Folhapress
O doleiro Alberto Youssef durante um depoimento prestado à CPI dos Correios, em 2005
O doleiro Alberto Youssef durante um depoimento prestado à CPI dos Correios, em 2005

O relator do caso, deputado Júlio Delgado (PSB-MG), afirmou que ainda decidirá se convocará um grupo de integrantes do conselho para ir ao Paraná tentar ouvir Youssef pessoalmente. Mas Delgado admite que se o doleiro mantiver a posição de permanecer calado, irá desistir da viagem.

O doleiro integra o grupo de oito testemunhas indicadas pelo relator do processo contra Vargas no Conselho de Ética. Nesta terça-feira (01), o conselho ouvirá o deputado Cândido Vaccarezza (PT-SP), primeiro a comparecer ao colegiado. O líder do PT na Câmara, Vicentinho (SP) e o presidente do PT, Rui Falcão, já informaram que não irão responder aos questionamentos do conselho. Eles já foram dispensados por Delgado.

O secretário de Ciência e Tecnologia do Ministério da Saúde, Carlos Gadelha, não enviou resposta ao conselho e por isso foi dispensado por Delgado. O dono da Elite Aviation, empresa dona do jatinho pago por Youssef e usado por Vargas para viajar com a família de férias, Bernardo Tosto, responderá aos questionamentos por escrito.

Os sócios do laboratório Labogen, Leonardo Meireles e Esdras Ferreira irão prestar depoimento nesta quarta-feira (2). Delgado pretende questioná-los sobre a intermediação que teria sido feita pelo parlamentar com o Ministério da Saúde para garantir contratos.

De acordo com investigações da Polícia Federal, a Labogen foi usada para lavar milhões de reais oriundos dos negócios do doleiro Alberto Youssef. Vargas teria auxiliado o doleiro a conseguir um contrato no ministério para o laboratório no valor de R$ 31 milhões. Em uma das mensagens interceptadas pela Polícia Federal na Operação Lava Jato, Vargas e o doleiro aparecem conversando sobre a Labogen.

Meirelles foi preso pela Operação Lava Jato em março, mas decidiu colaborar com a PF e foi solto. Em dezembro de 2013, o laboratório conseguiu fechar uma parceria com o ministério da Saúde. Na época, a pasta era comandada por Alexandre Padilha, hoje candidato ao governo de São Paulo pelo PT.

A parceria foi cancelada pela pasta depois que a Folha revelou que o doleiro era o dono oculto da Labogen e que obtivera o acordo e um sócio de grande porte, o laboratório EMS, por meio da influência de Vargas.

Júlio Delgado tem até o dia 24 de julho para concluir seu relatório. No entanto, ele pretende encerrar o processo e votar o relatório no conselho até o dia 17 de julho, último dia de trabalho dos deputados antes do recesso parlamentar.


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