Folha de S. Paulo


Aos gritos de 'fica', Sarney cita Lula e FHC e oficializa adeus às eleições

Aos gritos de "fica" e em rápido discurso na convenção do PMDB do Amapá nesta sexta-feira (27), em Macapá, o senador e ex-presidente José Sarney, 84, oficializou que não disputará nenhum cargo nas próximas eleições.

Sarney citou Lula e FHC, atacou os adversários locais e disse que a saída das disputas eleitorais é "definitiva".

"Hoje, depois de muitos anos na politica, exercendo minha profissão de maneira digna depois de 74 anos de vida pública, é o discurso mais difícil para mim. Nem tinha palavras para encontrar e expressar o que tenho a dizer. Estou na convenção para lutas, participando com os companheiros em torno de uma campanha que acho necessária para o Amapá. Vim para servir", afirmou Sarney.

Maranhense que se ele elegeu senador pela primeira pelo Amapá, em 1990, Sarney disse irá continuar na vida política, inclusive auxiliando nas campanhas de seus aliados locais.

"Eu não vou sair da política, vou continuar. O Lula não tem mandato e é ex-presidente com todo o prestigio nacional que ele desfruta. Fernando Henrique não tem mandato e é uma presença com grande parcela de liderança pelo país. Eu também não terei mandato, mas serei um político e terei minha parcela a nível nacional, a serviço do Brasil e do Amapá."

E relembrou que o principal motivo para a retirada de sua candidatura é a saúde de sua mulher, Marly.

"Essa é uma decisão definitiva. A vida está me pedindo um tempo, e a política está muito desestimulante. Sou casado há 64 anos e agora atravessamos dificuldades que me abalaram profundamente e também creio que estou sendo um exemplo para os maridos", declarou Sarney, ao chegar ao local da convenção.

Cercado de políticos, o senador participou do evento sob gritos de "fica", manifestados por militantes do partido.

Sarney ainda pediu a compreensão da militância. "Em 1954 eu tinha 24 anos e eu participava da primeira convenção como candidato a deputado federal e hoje, 60 anos depois, peço que compreendam a minha decisão. Vocês que estão pedindo para que eu continue. Não vou deixar jamais a politica do Amapá e estou cumprindo um dever e acho que o Amapá precisa de paz e diálogo."

Sarney também afirmou ser alvo de criticas e provocações que, segundo ele, não condizem com a avaliação do eleitorado amapaense.

"Não julgo a educação do povo amapaense, pois sei que ele é educado e sei que a falta de educação foi proveniente de pessoas compradas dos adversários políticos. Nunca ninguém vai me tirar do Amapá. Este é um grito autoritário, pois a minha presença incomoda, pois trabalho e o povo reconhece a vitória."

Sarney, vaiado em recente evento no Estado ao lado de Dilma, completou: "Para mim o Amapá é ternura, amor e amizade do povo que há 20 anos me recebeu tão bem. E eu não vou parar, vou continuar a trabalhar. Vou implantar a Zona Franca e também trazer indústrias e oficializar novas usinas hidrelétricas, para o desenvolvimento do Amapá".

Sarney encerrou seu discurso agradecendo aos aliados e a imprensa do Amapá –essa "que sempre me tratou muito bem".


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