Folha de S. Paulo


Possivelmente a gente tenha culpa, diz Lula sobre vaias

Após pregar que as vaias e os xingamentos direcionados à presidente Dilma Rousseff foram propagados pela "elite branca", o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva baixou o tom nesta quarta-feira (25) e admitiu que o governo "possivelmente tenha culpa" por não ter "cuidado com carinho" da insatisfação de parte da população.

A fala de Lula representa uma mudança de discurso dois dias após o ministro Gilberto Carvalho (Secretaria-Geral da Presidência), um de seus principais auxiliares, afirmar à Folha que o PT errava no diagnóstico sobre o descontentamento da população e que ataques a Dilma não eram exclusivos da elite. A presidente foi ofendida durante a abertura da Copa, no Itaquerão, em São Paulo.

A declaração do ministro, responsável pela interlocução com os movimentos sociais, gerou mal-estar no Planalto e provocou críticas internas do PT por ter potencial para gerar desgaste a Dilma em ano eleitoral.

"Eu digo sempre que a vaia e o aplauso é só começar que acontecem. Agora, aqueles palavrões me cheirou a coisa organizada, o preconceito, a raiva demonstrada, possivelmente a gente tenha culpa, vou repetir: que a gente tenha culpa de não ter cuidado disso com carinho", afirmou o ex-presidente durante entrevista ao Jornal do SBT.

E completou: "O PT não pode fazer uma campanha sem discutir o tema da corrupção, não pode fazer, não podemos fazer como avestruz e enfiar a cabeça na areia e falar que este tema não podemos debater."

Ex-chefe de gabinete de Lula, Carvalho afirmou que começa a ganhar corpo "uma opinião cada vez mais ampla de que nós estamos prejudicando o país, de que inventamos a corrupção".

Questionado sobre as condenações do mensalão, o ex-presidente reafirmou que é preciso recontar essa história e defendeu que "companheiros agora têm que conquistar é o direito de andar de cabeça erguida pelas ruas desse país".

Em 2012, o STF (Supremo Tribunal Federal) confirmou que houve um esquema de desvio de recursos públicos que bancou a compra de apoio político no Congresso, no início do governo Lula. Entre os presos estão o ex-ministro José Dirceu (Casa Civil), o ex-presidente do PT José Genoino, e o ex-tesoureiro do partido, Delúbio Soares.

Ele criticou o papel da imprensa no julgamento. O escândalo foi revelado pela Folha, em 2005.

"A minha tese é de que possivelmente esse tenha sido o processo que tenha sido julgado com a maior pressão de determinados setores dos meios de comunicação da história da humanidade", disse Lula. "Nunca as pessoas envolvidas no processo foram condenadas com tanta antecedência como neste caso", reforçou.

O petista minimizou o ataque ao Supremo. "Não estou julgado os ministros e não vou julgar, mesmo que uma decisão ou outra não me agrade. Não é meu papel julgar a Suprema Corte. Agora, o que temos que fazer é recontar essa história. As penas desses companheiros já foram dadas. O que esses companheiros agora têm que conquistar é o direito de andar de cabeça erguida pelas ruas desse país."

Lula desconversou sobre a necessidade de a presidente Dilma precisar mudar seu estilo de governo e voltou a defender a política econômica de sua sucessora que tem sido atacada pelo mercado.

"Nós tivemos uma crise econômica mundial. Se compararmos o Brasil de 2013, de 2014 com o de 2010, a gente estava crescendo a 7.5% e estamos crescendo a 2%. Não temos que comparar com 2010. Tem que comparar com 2002, como a gente pegou o país porque o processo é o projeto de construção que está em vigor no país", disparou.

Lula afirmou que vai se empenhar pela reeleição de Dilma. "Eu sou um ser político, pertenço a um partido político, eu sei da importância política que tenho no Brasil, sei da representatividade que tenho no Brasil. Tenho consciência disso. Não sou humilde de falar que eu sou um coitadinho, não sou um coitadinho não. Eu tenho muita força política no Brasil e vou dedicar essa força política a eleger a Dilma. Acho que ela é a melhor candidata, e acho que ela vai fazer um segundo mandato extraordinária", reforçou.

O ex-presidente voltou a exaltar a realização da Copa. "O mérito é do povo brasileiro. O Brasil nunca teve uma exposição dessa e vai ter outra exposição nas Olimpíadas. Se não, dá a impressão de que não podemos fazer evento, que somos pobres, temos problemas de saúde, de educação. O mundo inteiro faz evento com seus problemas".


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