Folha de S. Paulo


Lula muda o tom e defende política econômica de Dilma

A menos de 15 dias do início oficial da campanha, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva abandonou o tom crítico expressado em eventos recentes e fez nesta terça-feira (24) uma forte defesa da política econômica do governo Dilma Rousseff.

A mudança de tom se direcionou a uma plateia de empresários brasileiros e estrangeiros que ouviram do petista o comprometimento do governo com pilares de uma política fiscal austera, com inflação no centro da meta. Segundo Lula, "levantar dúvidas sobre a seriedade fiscal do Brasil não tem procedência" e "há muita gente com má-fé com o Brasil".

Sustentando que "não existe mágica em política econômica", o ex-presidente disse que a palavra-chave para o mercado é credibilidade e pregou que há estabilidade para investimentos no país.

Empresários reagiram mal a um discurso recente de Lula, em evento em Porto Alegre, no qual ele criticou publicamente o secretário do Tesouro Nacional, Arno Augustin, defendendo que o governo deveria liberar mais crédito e gastar mais.

Parte do empresariado pensa o contrário: para eles, um dos problemas da gestão Dilma foi exatamente não segurar os gastos, o que pressionou a inflação. Ao longo do governo da petista, as contas federais têm apresentado resultado em declínio, com descompasso entre a arrecadação, que cresce em ritmo lento, e os gastos, em expansão.

Danilo Verpa/Folhapress
O ex-presidente Lula fala a empresários durante encontro
O ex-presidente Lula fala a empresários durante encontro

A fala do petista ocorre num momento de aproximação do setor empresarial com os candidatos da oposição, Aécio Neves (PSDB) e Eduardo Campos (PSB), convidados a almoços e jantares que serviram de palanque para ataques a gestão de Dilma, acusada de governar sem ouvir o setor privado.

Em meio a um clima de queda de confiança dos empresários, detectado por petistas, Lula disse nesta terça que o sistema financeiro brasileiro é o "mais responsável, bem regulado e mais fiscalizado" e que "não se brinca com a estabilidade fiscal".

O ex-presidente ainda apontou que o país viveu um período farto de crédito, sendo possível ter mais expansão, sem risco de fragilizar a economia. "Na Europa, tem países em que o crédito é 100% do PIB, nós só chegamos aos 56% e tem gente que fala que vai surgir uma bolha. Não há sinais de que vai ter uma bolha."

Adotando um tom de fiador político de Dilma, ele destacou que o empresariado nunca ganhou tanto dinheiro quanto nos 12 anos dos governos petistas e reforçou confiança na receita brasileira para a economia.

"Controlar inflação, manter estabilidade fiscal e controlar gastos, com desemprego, é fácil. Mas manter inflação dentro da meta, com a seriedade fiscal, gerando emprego e aumentando salário, é um precedente pouco usual em qualquer país do mundo", disparou. "Queremos provar que vamos levar a inflação para dentro da meta, mantendo o nível de emprego".

Editoria de arte/Folhapress

COPA NO BRASIL

No almoço, promovido pela Eurocâmaras e Câmara de Comércio França-Brasil de São Paulo, o ex-presidente fez poucas referências a sua sucessora. Mas aproveitou para criticar indiretamente a aproximação do empresariado com os candidatos da oposição. "Economista quando é da oposição sabe tudo. Nunca vi bicho mais sabido do que economista da oposição", ironizou.

Ele ainda se colocou a disposição do mercado. "Se alguns de vocês tiver alguma dúvida para fazer investimento no Brasil, me coloco a disposição porque eu acho que tem muita gente de má-fé com o Brasil", disse.

No evento, estavam presentes o economista-chefe do Bradesco, Octavio de Barros, e Josué Gomes da Silva, da Coteminas, entre outros. Ao circular na plateia, Lula ouviu frases como: "está fazendo falta" ou "estávamos com saudades do senhor".

Em seu discurso, o petista ainda defendeu a realização da Copa no Brasil e reforçou críticas à imprensa.

"As pessoas diziam em relação à Copa com a maior desfaçatez: 'Não vai ter estádio, não vai ter aeroporto, vai ter problema de manifestação'. Tudo que a gente leu, inclusive adotado pela imprensa estrangeira, dizia que ia ter problema. E agora esses jornais estão se rendendo", disse.


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