Folha de S. Paulo


Fornecedores da Petrobras fizeram depósitos em conta de Youssef, diz PF

Empresas que têm contratos com a Petrobras, como a Sanko Sider e a OAS, fizeram depósitos em contas na Suíça controladas pelo doleiro Alberto Youssef, segundo documentos apreendidos pela Polícia Federal.

A Suíça bloqueou uma conta com saldo de US$ 5 milhões que está no nome de um laranja de Youssef, conforme a Folha revelou nesta quarta, por causa da suspeita de que ela foi alimentada com recursos desviados da Petrobras.

A Sanko é a maior fornecedora de tubos da Petrobras, e a OAS tem vários contratos com a estatal. Ambas aparecem em documentos fazendo pagamento ao doleiro a pelo menos três empresas fantasmas controladas por ele. Como as empresas não tem atividade, a PF suspeita que os valores depositados eram para pagamento de propina.

Youssef, preso desde 17 de março, é acusado pela Operação Lava Jato de comandar um esquema de lavagem de dinheiro que teria movimentado R$ 10 bilhões.

Os extratos encontrados são um dos principais indícios de que fornecedores da Petrobras pagavam propina por meio do doleiro, em conta no exterior, segundo interpretação da Polícia Federal e do Ministério Público Federal.

ABREU E LIMA

Procuradores sustentam que os recursos depositados foram desviados da obra da refinaria Abreu e Lima, que está sendo construída pela Petrobras. Estimada originalmente em US$ 2,5 bilhões, a obra deve custar mais de US$ 18 bilhões quando ficar pronta, no próximo ano.

Paulo Roberto Costa, ex-diretor da Petrobras que foi preso pela segunda vez nesta quarta-feira (11), é réu numa ação penal sob acusação de ter desviado recursos da obra. Como diretor de abastecimento da Petrobras, cargo que ocupou entre 2004 e 2012, ele foi um dos responsáveis pela obra.

Costa nega que tenha havido superfaturamento na refinaria, como aponta o Tribunal de Contas da União. A Suíça bloqueou 12 contas atribuídas a ele e familiares com saldo de US$ 23 milhões. A descoberta das contas secretas na Suíça foi uma das justificativas da nova prisão.

O advogado de Costa, Nelio Machado, diz que, mesmo na hipótese de as contas serem de seu cliente, a prisão foi abusiva e desnecessária, já que seu Costa cumpriu todas as determinações na Justiça nos dias em que permaneceu em liberdade.

O ex-diretor da Petrobras foi preso em 20 de março e liberado 59 dias depois por decisão do ministro Teori Zavascki, do Supremo Tribunal Federal.

OUTRO LADO

A Sanko Sider diz em nota que está havendo uma interpretação equivocada de "documentos sistemática e ilegalmente vazados à imprensa".

Segundo a assessoria do grupo, a empresa não tem conta no exterior, e todos os pagamentos feitos fora do Brasil correspondem a importações –os tubos que a empresa fornece à Petrobras vêm da China.

"Somos uma empresa importadora, que paga aos seus fornecedores nos bancos por eles indicados, das mais variadas bandeiras, em todo o mundo; todos esses pagamentos são corretos, tributados, registrados, acompanhados, autorizados e aprovados pelas autoridades e instituições competentes".

Segundo a Sanko, "não há nenhum centavo dessas remessas que não esteja totalmente documentado". As remessas são feitas via Banco Central, e toda a documentação é rechecada pela Receita Federal, de acordo com a empresa.

Até este momento a OAS não havia se pronunciado sobre os depósitos na Suíça.


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