Folha de S. Paulo


Marcello Alencar foi o mais carioca de todos os prefeitos, diz Paes em velório

Beth Santos/Divulgação
Da esq. para dir., Carlos Alberto Muniz (Meio Ambiente),o deputado Luiz Paulo Correa, a viúva Celia Alencar,o filho Marco Aurélio Alencar, Cristine e Eduardo Paes
Da esq. para dir., Carlos Alberto Muniz (Meio Ambiente),o deputado Luiz Paulo Corrêa (PSDB), a viúva Celia Alencar,o filho Marco Aurélio Alencar, Cristine e Eduardo Paes no velório no Palácio da Cidade

O corpo do ex-governador do Rio e ex-prefeito da capital fluminense Marcello Alencar é velado na manhã desta quarta-feira (11) no Palácio da Cidade, em Botafogo, zona sul carioca.

Alencar morreu na madrugada desta terça-feira (10), em seu apartamento na praia de São Conrado, na zona sul. Segundo amigos do ex-parlamentar, ele sofreu falência múltipla dos órgãos. Ele era presidente de honra do PSDB e tinha a saúde debilitada por dois AVCs (acidentes vasculares cerebrais). Alencar deixa mulher e três filhos.

O governador Luiz Fernando Pezão, o ex-governador Sérgio Cabral e o prefeito Eduardo Paes, todos do PMDB, foram os primeiros a passar pelo local, além do deputado estadual Luiz Paulo Corrêa (PSDB). O velório começou por volta das 9h. Em seguida, o corpo será cremado no Cemitério do Caju, na zona norte.

"Estamos falando do mais carioca de todos os prefeitos. O Marcello tinha essa coisa da carioquice, da enorme paixão pelo povo, pelo jeito do carioca, pela cultura desta cidade, pelo samba, pelo surfe, pelas classes mais populares", disse Paes.

"Conheci o ex-governador como prefeito e aprendi a admira-lo muito. Fomos adversários, mas ele me tratava com tanta cordialidade que se transformou em uma grande amizade. Era um grande democrata, todos conhecem. A gente vê que foi um exemplo para todo mundo que gosta da política, que se dedica a política. Marcello Alencar deixou ao Estado do Rio um grande legado", afirmou Pezão.

" Eu acho que o Marcello fez uma reversão no quadro do Rio. Ele pegou uma cidade sem condições, incapaz de investir, incapaz de realizar e transformou em uma cidade que voltou a investir e voltou a realizar. Esse é o grande legado desse grande homem", acrescentou o prefeito.

Até as 10h30, o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso e Aécio Neves ainda não haviam passado pelo velório. Cerca de 30 parentes e amigos de Alencar participam da cerimônia.

Pedro Carrilho - 15.mai.2010/Folhapress
O ex-governador do Rio Marcello Alencar
O ex-governador do Rio Marcello Alencar durante entrevista à Folha em sua casa, em 2010

CARREIRA

Na terça-feira (10), Luiz Paulo lembrou a trajetória de Alencar, que era suplente de senador quando teve os direitos políticos cassados pela ditadura militar em 1969. Sem mandato, tornou-se advogado de presos do regime.

Após a redemocratização, Alencar voltou à política no PDT do ex-governador Leonel Brizola, também perseguido pelos militares. Foi prefeito do Rio por dois mandatos e se elegeu governador em 1994, já no PSDB.

"Como gestor, tirou a prefeitura da falência e modernizou o Estado com as primeiras concessões na área de transportes, com obras importantíssimas na área do metrô de Botafogo a Copacabana (zona sul), Triagem a Pavuna (zona norte). Ele deixou um legado muito forte", acrescentou Luiz Paulo.

Alencar era um político irreverente, que costumava despachar de pés descalços e fazia piada com o apelido de "Velho Barreiro", referência ao gosto pela bebida.

À semelhança de Brizola, rompeu com muitas de suas crias políticas, como o ex-governador do Rio, Sérgio Cabral (PMDB), em meio a uma troca de acusações de corrupção. O prefeito do Rio, Eduardo Paes (PMDB), também deixou o partido após se desentender com ele.

Mesmo doente, o ex-governador se manteve no comando da legenda no Rio até as eleições de 2010, quando articulou o lançamento de Fernando Gabeira (PV) ao governo do Estado. "Tenho que ter sempre a última palavra. Para ser obedecido ou desobedecido", disse Alencar à Folha, há quatro anos.


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