Folha de S. Paulo


Joaquim Barbosa é figura paradoxal, diz Luís Francisco Carvalho Filho

Para o advogado criminalista e colunista da Folha Luís Francisco Carvalho Filho, o presidente do STF (Supremo Tribunal Federal) deixa legados positivos e negativos à Corte que anunciou deixar nesta quinta-feira (29).

A agressividade verbal, a maneira pouco educada de tratar advogados e uma visão muito dura da Justiça Penal ficam como contribuição negativa dos seus 11 anos no Supremo. Por outro lado, a "maneira corajosa" com que enfrentou a punição de políticos no país é o seu legado positivo, para Carvalho Filho. "É uma figura paradoxal", resume o advogado.

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Folha - Como o sr. vê a saída de Barbosa do STF?
Luís Francisco Carvalho Filho - Eu vejo com normalidade. São ciclos que vão se passando. É uma questão de natureza pessoal mesmo, ele tem problemas de saúde. Eu não tenho conhecimento de nenhum fato político que levasse ele a se aposentar.

Qual o legado que o magistrado deixa à Corte?
Eu acho que o Barbosa é uma figura paradoxal. Ele tem uma contribuição negativa e positiva. As contribuições negativas são a agressividade verbal, a maneira pouco educada de tratar advogados e uma visão muito dura da justiça penal. A visão positiva é a maneira franca e corajosa com que ele enfrentou a questão da punição de pessoas que, bem ou mal, exerciam o poder no Brasil. Independentemente da decisão dele ser justa ou injusta.

Como fica a composição da Corte com saída de Barbosa?
A saída do Barbosa não vai modificar as forças que estão lá. É um tribunal formado por poucas pessoas e que tem uma tendência a encontrar substitutos na mesma linha. O Joaquim é um homem com uma visão muito conservadora, assim como outros. Acabou a ideologia para os ministro do Supremo. Tanto é que o PT, um partido que se diz de esquerda, tem nomeado pessoas de direita para o STF. Não quer dizer nada.

Quais serão os desafios da presidente Dilma na escolha de um novo membro?
Eu espero que ela escolha alguém que seja preparado e independente. Se ela tem expectativa de que ela vai encontrar alguém que vai ser um ministro dela, está absolutamente enganada. Ela não pode ficar adiando, que nem ela já fez. Isso é indecisão, uma fragilidade política, não saber definir quem vai ser ministro do Supremo.

Mesmo em ano eleitoral?
Eu acho que a nomeação de um ministro do Supremo gerava muito pouca repercussão no Brasil. Acho que hoje, como um legado não só do Joaquim, mas dos últimos anos, com a ação penal do mensalão, a designação de alguém para ocupar um cargo no STF tem uma visibilidade maior. De modo que eu acho que, não só os partidos políticos, mas também a opinião pública se debruçará sobre quem ela está escolhendo. Só espero que não seja alguém da alcova palaciana, chega disso.

Editoria de Arte/Folhapress

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