Folha de S. Paulo


Vizinhos de estádios, moradores e comércio sofrem com restrições da Fifa

Enquanto moradores vizinhos dos estádios da Copa se queixam da falta de informação e da burocracia necessária para entrar e sair de casa em dias de jogos, donos de empresas e estabelecimentos comerciais calculam o prejuízo e temem pela segurança.

Todas as cidades estão sujeitas a restrições comerciais e publicitárias impostas pela Fifa em um raio de até 2 km dos estádios e das Fan Fests.

Para proteger suas marcas e seus patrocinadores, a entidade veta propaganda de outras marcas nessa área.

Cabe a cada sede definir o alcance da área e fiscalizar moradores e comerciantes. Para circular na véspera e em dias de jogos, é necessário fazer um cadastro.

A Prefeitura de Cuiabá não só cadastrou os moradores como proibiu todo tipo de comércio ambulante, enquanto, em Manaus, diversos bares próximos à Arena da Amazônia já estão padronizados.

Em Natal, o cadastramento pegou muita gente de surpresa. "Estamos descobrindo isso agora, e ainda precisamos passar por toda uma burocracia para conseguir a liberação dos veículos", diz o comerciante Flávio
Santiago.

Em Curitiba, onde 40 mil pessoas se cadastraram, a principal queixa é ao veto à passagem de veículos. Nas quatro horas anteriores e nas duas horas após o fim das partidas, os moradores do entorno da Arena da Baixada só poderão circular a pé.

Em Fortaleza, é o limite de carros com permissão para circular nos seis dias de jogos –dois por família– o que tem gerado revolta. "Vai atrapalhar muito", diz o autônomo Lauro Araújo, 51, cuja família tem quatro carros.

Comerciantes também estão insatisfeitos. Francisco Duarte, 56, estima prejuízos de até R$ 40 mil na madeireira que mantém há oito anos em frente ao estádio.

Em Salvador, a expectativa também é de pouco movimento. "Vamos abrir apenas alguns dias durante a Copa", diz Lucas Ribeiro, 19, funcionário de loja de autopeças.

Nos dias de jogos, 500 ambulantes cadastrados poderão atuar na zona de restrição, vendendo produtos dos patrocinadores. A exceção são as baianas de acarajé.

No entorno da Arena Pernambuco, onde há apenas um posto de gasolina e três restaurantes, a maior dor de cabeça tem sido a vigilância sanitária municipal, que intensificou as inspeções às vésperas do campeonato.

Maria do Céu da Silva, 54, teme não conseguir fazer os ajustes pedidos, como troca de piso e instalação de divisórias no banheiro, e ter seu restaurante interditado.

"Há 40 anos que estamos aqui e vamos sair bem na Copa? Eu brigo!", disse a dona do Bodega do Sertão –o nome antigo, Restaurante da Copa, teve de ser alterado.

No entorno do Mineirão, em Belo Horizonte, comerciantes temem protestos violentos. Na Copa das Confederações, as concessionárias de veículos que ficam nas vias de acesso ao estádio foram destruídas.

Preventivamente, decidiram agora retirar os carros das lojas e cercá-las com telhas de zinco.

Colaboraram BELO HORIZONTE, CURITIBA, SALVADOR, NATAL E CUIABÁ


Endereço da página: