Folha de S. Paulo


Ex-presidente da Petrobras recua e poupa Dilma de compra de Pasadena

Em depoimento à CPI da Petrobras no Senado, o ex-presidente da Petrobras José Sérgio Gabrielli afirmou que a presidente Dilma Rousseff não teve responsabilidade sobre o mau negócio –na época, ela comandava o Conselho de Administração que aprovou a aquisição. A fala em defesa da presidente vai de encontro à declaração do próprio Gabrielli sobre o papel de Dilma no negócio.

Em entrevista ao jornal "O Estado de S. Paulo" no mês passado, ele disse que Dilma "não pode fugir da responsabilidade" sobre o caso Pasadena. Na manhã desta terça-feira (20), entretanto, Gabrielli afirmou que "não compete ao conselho [esse tipo de análise] nem há possibilidade de entrar nos detalhes operacionais dos contratos".

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Em sintonia com a base governista, que domina a comissão, Gabrielli defendeu ainda a aquisição da refinaria de Pasadena (EUA). "Eu acho que não seria rejeitado. naquela época, a questão não era a cláusula marlim. Era 'vale a pena expandir o refino no exterior'? Ou 'vamos continuar apenas na Bolívia e na Argentina', como encontramos do governo anterior? Era isso que a gente ia continuar, sendo os EUA o maior mercado em crescimento? Essa era a discussão na época. É evidente que hoje a discussão é outra", completou.

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A aquisição motivou a criação da CPI porque o negócio deu prejuízo à Petrobras de cerca de US$ 530 milhões. Neste ano, a presidente Dilma Rousseff justificou seu voto pela aprovação da compra de 50% de Pasadena em 2006 pelo fato de não ter tido conhecimento de duas cláusulas do contrato: put option (que obrigava um dos dois sócios a comprar os outros 50% em caso de discordância) e marlim (que dava uma garantia de rentabilidade à outra sócia para o processamento do óleo da Petrobras).

"É um negócio que era bom, passou-se um momento ruim, e agora voltou a ser bom negócio", defendeu o ex-presidente. "Em 2014 ela é lucrativa, porque tem petróleo disponível no Texas a preço barato, leve, que pode ser processado em Pasadena e pode, vendendo derivados no mercado americano, ter margem em torno de 30 a 40 dólares por barril. Tem capacidade de 100 mil barris por dia, são 30 milhões de barris por ano. Dá 100 milhões de dólares de lucro por ano. É uma refinaria potencialmente muito lucrativa", disse Gabrielli, no início de seu depoimento.

O único senador de oposição na CPI, Cyro Miranda (PSDB-GO), decidiu não ir ao depoimento de Gabrielli, o que garantiu controle total à base governista. Segundo seu gabinete, ele considera a CPI do Senado uma "ação entre amigos" e prefere se concentrar nos trabalhos da CPMI (comissão parlamentar mista de inquérito, que envolve Câmara e Senado), que deve ser menos controlada pela base governista.


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