Folha de S. Paulo


Impunidade de militares é incentivo à tortura, diz filha de Rubens Paiva

A impunidade dos torturadores da ditadura militar é um incentivo à permanência da tortura contra presos no Brasil, disse nesta segunda (19) a psicóloga Vera Paiva.

Ela veio ao Rio a convite do Ministério Público Federal, que denunciou à Justiça cinco militares acusados pela morte de seu pai, o deputado Rubens Paiva, em 1971.

O parlamentar morreu sob tortura na antiga sede do DOI-Codi, na Tijuca, zona norte do Rio. Até hoje, o paradeiro do corpo é desconhecido e ninguém foi condenado.

"Espero que esta denúncia sirva para não deixar impunes aqueles que continuam matando e ocultado cadáveres no Brasil", disse Vera Paiva.

Ela comparou à morte do pai à do pedreiro Amarildo de Souza, detido por PMs da UPP (Unidade de Polícia Pacificadora) da Rocinha, no Rio, em julho de 2013.

"O caso Rubens Paiva é um protótipo do caso Amarildo e de milhares de outros que continuam acontecendo todos os dias", afirmou.

A psicóloga fez um apelo às Forças Armadas para que colaborem com as investigações dos crimes da ditadura.

"O Exército não tem por que se contaminar com essa página vergonhosa da história. Nós não conseguimos entender isso."

Ao comentar a busca da família pela verdade, Vera Paiva disse que o sofrimento continua depois de 43 anos.

Ela contou que teve dificuldades para entrar no mar depois que o coronel reformado Paulo Malhães disse que os restos mortais do pai foram jogados no oceano.

Mais tarde, o oficial deu outras versões: disse que o corpo acabou em um rio e, à Comissão Nacional da Verdade, voltou atrás e negou envolvimento na ocultação do cadáver.

"O coronel deu versões diferentes para acabar de nos torturar", disse Vera Paiva. "É uma história que nunca termina."

Gabo Morales - 1.mar.12/Folhapress
A psicóloga Vera Paiva na abertura da Comissão da Verdade Rubens Paiva, em São Paulo
A psicóloga Vera Paiva na abertura da Comissão da Verdade Rubens Paiva, em São Paulo

DENÚNCIA

O Ministério Público Federal denunciou nesta segunda (19) cinco militares acusados de participar da morte e da ocultação do cadáver do deputado Rubens Paiva, em 1971. O parlamentar foi morto sob tortura e é um dos mais conhecidos desaparecidos políticos da ditadura brasileira (1964-1985).

O general reformado José Antonio Nogueira Belham, que comandava o DOI-Codi no Rio, e o coronel Rubem Paim Sampaio, ex-integrante do CIE (Centro de Informações do Exército), foram denunciados por homicídio triplamente qualificado, ocultação de cadáver e associação criminosa armada.

Se a denúncia for aceita pela Justiça Federal, eles podem ser condenados, ao fim do processo, a até 37 anos de prisão. O coronel reformado Raymundo Ronaldo Campos e os militares Jurandyr Ochsendorf e Souza e Jacy Ochsendorf e Souza foram acusados de ocultação de cadáver, fraude processual e associação criminosa armada. As penas para estes crimes chegam a dez anos de prisão.


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