Em visita às obras de transposição do rio São Francisco nesta terça-feira (13), a presidente Dilma Rousseff criticou o que apontou como falta de planejamento do governo de São Paulo para evitar uma crise de desabastecimento de água. E mandou um recado à oposição.
"Acontece uma coisa engraçada no Brasil, não sei se vocês já notaram. Quem nunca fez desanda a cobrar de quem fez", disse a presidente a jornalistas após visitar obras do túnel Cuncas 2, em São José de Piranhas, na Paraíba.
"O São Francisco, queridos, é o rio que beneficia mais a população nordestina e vai garantir uma diferença de qualidade. Principalmente quando nós estamos vendo hoje uma situação muito difícil sendo passada no Estado mais rico da Federação, São Paulo, que é a falta de água no reservatório da Cantareira", disse a presidente.
O nível do sistema Cantareira, que abastece parte da capital paulista e municípios da Grande São Paulo, vem batendo recordes de escassez de água, atingindo nesta terça-feira 8,6% de sua capacidade. Após o início da crise em São Paulo, o governo de Geraldo Alckmin (PSDB) prometeu entregar obras para utilização do chamado "volume morto", para elevar o nível de aproveitamento da água no sistema.
Já a obra da transposição do rio São Francisco, que tinha previsão de entrega em 2010 (eixo leste) e 2012 (eixo norte), tem conclusão prevista apenas para o final de 2015. A estimativa de gastos, de R$ 4,6 bilhões em 2007, hoje é de R$ 8,2 bilhões.
Sem citar nominalmente o governador tucano, Dilma disse que o governo federal se planejou contra a seca no Nordeste, o que não teria ocorrido em São Paulo. "Você veja que o Nordeste tem esse mérito. Ele teve essa consciência e esse planejamento", afirmou.
COMPARAÇÃO
Mais tarde, durante cerimônia em Jati (CE), onde visitou outro trecho das obras de transposição do São Francisco, a presidente voltou a comparar o planejamento contra a seca realizado no Nordeste e no Sudeste.
"Vejam vocês que o Brasil está passando por um período de estiagem e hoje, no Sudeste, nos Estados mais ricos da Federação, especialmente em São Paulo, estamos enfrentando uma seca de todas as proporções. Mas lá não tem uma obra dessa proporção para garantir a segurança hídrica", disse.
Após a cerimônia, em entrevista coletiva, voltou a afirmar que o Nordeste "adquiriu mais cedo do que o resto do Brasil a consciência da importância estratégica de ter água" e que é preciso "lidar com o fato de que pode não chover".