Folha de S. Paulo


Homem que recebeu do doleiro Alberto Youssef esteve com Gleisi

Um dos beneficiários das contas operadas pelo doleiro Alberto Youssef participou de duas reuniões no Palácio do Planalto em 2013, onde foi recebido pela senadora e ex-ministra da Casa Civil Gleisi Hoffmann (PT-PR).

Homem do mercado financeiro, Cláudio Honigman e o pai dele receberam um total de R$ 75 mil em 2009 da MO Consultoria, empresa controlada por Youssef e investigada pela Polícia Federal, na Operação Lava Jato, por movimentar recursos do doleiro.

A MO também pagou R$ 170 mil de pensões alimentícias para a família de Honigman, por meio de cheques depositados na conta do advogado dele. Youssef é investigado por comandar esquema de lavagem de dinheiro e por manter relações suspeitas com empresários e políticos.

Em 21 agosto do ano passado, o nome de Cláudio Honigman aparece na agenda de reuniões da Casa Civil, identificado como presidente do Banco Mizuho do Brasil, instituição financeira internacional com sede no Japão.

Outros dois representantes do banco participam desse encontro de apresentação com Gleisi Hoffmann, que estava acompanhada de seu assessor especial, segundo registros oficiais.

No mês seguinte, Honigman voltou a participar de uma reunião com Gleisi, dessa vez com outros representantes do grupo Mizuho e também com a presença do ministro César Borges (Transportes) para apresentação de programas de infraestrutura do governo federal.

Quem marcou os encontros com a ministra e levou Honigman e os outros representantes do grupo Mizuho foi o senador Gim Argello (PTB-DF). O senador diz ter sido abordado no Congresso por representantes do banco pedindo para que lhes ajudasse a fazer contatos com órgãos do governo, uma vez que estavam interessados em financiar investimentos no Brasil. "Todo dinheiro que vier, penso que é bom", disse Argelo.

Os depósitos do doleiro Youssef a Honigman fazem parte do grupo de transferências suspeitas levantadas pela PF, que abriu uma investigação para apurar os negócios da MO Consultoria, registrada em nome de um laranja confesso. A PF identificou que R$ 89,7 milhões passaram nas contas dessa empresa entre 2009 e 2013.

A movimentação financeira da consultoria indica também que ela foi usada para cobrar dívidas e pagar contas de diferentes pessoas ligadas a Youssef, além da suspeita de pagamentos de propina.

LIGAÇÕES

Honigman também esteve em uma negociação alvo de inquérito da PF em 2011, que envolveu o ex-presidente da CBF Ricardo Teixeira na compra de um avião que havia entrado no país por US$ 1, o que levantou suspeita de lavagem de dinheiro. A transação com Teixeira não se concretizou.

Outra investigação também cita Teixeira e Honignam. Em 2011, a Polícia Civil do Distrito Federal enviou à Receita indícios de que Teixeira movimentou de maneira ilegal mais de US$ 1 milhão. Os indícios das negociações suspeitas foram encontradas em investigação sobre um jogo do Brasil realizado em Brasília e organizado pela Ailanto Marketing, comandada por Sandro Rosell, réu em ação criminal por fraude.

Segundo a investigação, os dois utilizaram a corretora Alpes, dirigida por Honigman entre 2007 e 2008, para operar os recursos.

OUTRO LADO

Os participantes dos dois encontros no Palácio do Planalto afirmam que as reuniões foram de apresentações e não resultaram em nenhum contrato ou parceria entre o banco e o governo federal. Procurada, a senadora Gleisi Hoffman (PT-PR), então ministra da Casa Civil, afirmou por meio da assessoria que a agenda era com o senador Gim Argello (PTB-DF), que estava acompanhado de Cláudio Honigman.

"A audiência foi para o senador e não para Honigman. O motivo do senador foi apresentar os executivos do Banco Mizuho. No dia 12 de setembro de 2013, o senador voltou a solicitar audiência para apresentar outros executivos do referido banco."

Nas agendas divulgadas pela Casa Civil, não consta o nome de Argello, embora Gleisi afirme que a audiência era com o senador. Gleisi diz que não conhece Honigman. O senador confirma que ligou para a então ministra e marcou o encontro a pedido do banco, mas diz que não conhece Honigman nem sabe detalhes do passado dele.

A Casa Civil, agora comandada por Aloizio Mercadante, diz que não houve novas tratativas com o banco Mizuho. A Folha não conseguiu localizar Honigman para falar sobre o assunto. O pai dele diz que não reconhece os depósitos, apesar de ter o nome, CPF e dados bancários nos documentos analisados pela PF.

Em nota, o banco Mizuho diz que Honigman não é presidente da instituição e que a primeira audiência foi uma "reunião de cortesia".


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