Folha de S. Paulo


Aliados constrangem Dilma e pedem candidatura de Lula

Alan Marques/Folhapress
O líder do PR na Câmara, Bernardo Santana (MG) coloca o quadro do ex-presidente Lula na parede
O líder do PR na Câmara, Bernardo Santana (MG) coloca o quadro do ex-presidente Lula na parede

Dois partidos que controlam ministérios e apoiam o governo no Congresso criaram constrangimento para a presidente Dilma Rousseff nos últimos dias, lançando dúvidas sobre sua capacidade de manter a coalizão partidária montada para sustentar sua campanha à reeleição.

Ontem, a bancada do PR na Câmara dos Deputados lançou um manifesto com um apelo para que o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva entre na corrida presidencial como candidato no lugar de Dilma, argumentando que ela não é preparada como ele para fazer a economia do país voltar a crescer com vigor.

Durante entrevista coletiva, após ler uma carta aberta assinada por 20 dos 32 deputados do PR, o líder da bancada, deputado Bernardo Santana (MG), levantou-se e pendurou na parede um quadro com a fotografia oficial de Lula quando presidente.

Em São Paulo, o ex-prefeito Gilberto Kassab (PSD), que em novembro declarou apoio à reeleição de Dilma, reuniu domingo num jantar em seu apartamento o pré-candidato do PSDB à Presidência, senador Aécio Neves (MG), o ex-governador paulista José Serra, derrotado pelo PT em duas eleições presidenciais, e outras lideranças tucanas.

O governador de São Paulo, Geraldo Alckmin (PSDB), quer atrair Kassab para sua campanha à reeleição e também participou do encontro. Ontem, Aécio disse que o jantar foi um "encontro de amigos" e que o partido de Kassab estará junto com os tucanos em Goiás e Minas Gerais.

Dilma espera ter 11 partidos a seu lado na campanha à reeleição e, com isso, dispor de cerca de 12 minutos em cada bloco do horário de propaganda eleitoral no rádio e na televisão. Juntos, o PR e o PSD asseguram à coalizão governista 21% desse tempo.

Na cúpula do PT, a movimentação dos dois partidos preocupa porque expõe a fragilidade da presidente e estimula os defensores da volta de Lula à disputa eleitoral, num momento em que a popularidade da presidente está em queda e a insegurança da população com os rumos da economia está crescendo.

Em entrevista à uma rede de televisão portuguesa, Lula reafirmou no fim de semana que apoia a reeleição de Dilma e não pretende se candidatar nas eleições deste ano.

Em dezembro, o PT pediu aos partidos aliados que formalizassem o quanto antes o apoio à reeleição, mas até agora só o PDT fez isso. A presidente foi pessoalmente ao escritório do PSD em Brasília em novembro, quando Kassab declarou apoio à sua reeleição.

O PR só deverá definir sua posição sobre a presidente na convenção do partido, provavelmente em junho. Os 20 deputados que apoiaram o manifesto divulgado ontem controlam cerca de 75% dos delegados com poder de voto na convenção, segundo Santana.

O manifesto afirma que somente o ex-presidente Lula pode "inaugurar um novo ciclo virtuoso de crescimento pela via da conciliação nacional". Santana disse que o partido apoiará Dilma se Lula não atender ao apelo dos deputados. "Não estamos contra a Dilma, nem vamos sair do governo", afirmou.

Santana é ligado ao grupo do ex-deputado Valdemar Costa Neto (SP), que foi condenado à prisão no julgamento do mensalão e hoje cumpre pena em regime semi-aberto em Brasília, trabalhando de dia num restaurante em que continua mantendo contatos políticos, como a Folha revelou em março.


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