Folha de S. Paulo


Pizzolato depõe sobre elo com lobista italiano próximo a Silvio Berlusconi

Preso na Itália, o ex-diretor de marketing do Banco do Brasil Henrique Pizzolato foi ouvido por um procurador da República de Nápoles em um inquérito que apura as atividades de Valter Lavitola, um lobista próximo do ex-premiê Silvio Berlusconi, que está preso.

O depoimento de Pizzolato foi colhido no final de março pelo procurador da República, Vincenzo Piscitelli, na penitenciária de Sant'Anna, em Módena, onde o petista está preso desde fevereiro aguardando o julgamento de um pedido de extradição feito pelo Brasil. Pizzolato foi condenado a 12 anos e 7 meses de prisão no julgamento do mensalão.

Um dos chefes da Interpol na Itália, coronel Francesco Fallica, confirmou que Pizzolato foi ouvido e deve voltar a depor ao procurador nas próximas semanas, mas ele não detalhou o teor do depoimento nem qual a ligação do brasileiro com o operador italiano.

Piscitelli, que ouviu Pizzolato, chefia as investigações sobre Lavitola. Ao contrário do brasileiro, que é um praticamente desconhecido do público italiano, Lavitola é uma espécie de celebridade no noticiário de escândalos no país.

Ex-dono do jornal Avanti e conselheiro da Finmeccanica, o mais importante grupo de alta tecnologia da Itália, o empresário é réu em uma ação na Justiça italiana em que responde à acusação de corrupção.

Lavitola e um outro diretor da Finmeccanica teriam prometido transferir € 18 milhões (R$ 55, milhões) para autoridades do Panamá em troca da assinatura de contratos de € 180 milhões com a empresa em 2010.

A ligação com Berlusconi é antiga. Lavitola também é suspeito de ter intermediado encontros do político com prostitutas e, mais tarde, teria tentado extorquir o ex-premiê, um dos homens mais ricos da Itália.

O vínculo entre Lavitola e Pizzolato é incerto. A Folha apurou que não existe, entre documentos e recibos de transferências bancárias apreendidas durante a prisão de Pizzolato, nenhuma menção ao operador italiano.

Lavitola viajou frequentemente ao Brasil nos últimos anos, chegando a ser sócio de uma empresa de importação e exportação de peixes no litoral norte do Rio.

A Folha não conseguiu contato com o procurador Piscitelli nem com o advogado de Lavitola nesta terça-feira (22). O defensor de Pizzolato também foi procurado, mas voltou a informar que não concederia entrevista.

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CONDENAÇÃO DE HENRIQUE PIZZOLATO

CRIMES Corrupção passiva, peculato (desvio de dinheiro público) e lavagem de dinheiro

PENA 12 anos e 7 meses de prisão em regime fechado, mais uma multa de R$ 1,3 milhão

O QUE ELE FEZ Em 2003 e 2004, o ex-diretor de marketing do Banco do Brasil autorizou o repasse de R$ 73,8 milhões que a instituição tinha no fundo Visanet para a DNA, agência de publicidade do empresário Marcos Valério que tinha contrato com o BB e foi usada para distribuir dinheiro a políticos. Pizzolato recebeu R$ 336 mil do esquema

O QUE ELE DISSE Pizzolato afirmou durante o julgamento que o dinheiro que recebeu era destinado ao PT e foi entregue a um emissário do partido. Ele se queixou do fato de que outros executivos do banco autorizaram repasses de recursos do Visanet e não foram processados. Ele nega que o dinheiro tenha sido desviado para o mensalão


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