Folha de S. Paulo


'Não sou laranja', diz sócio de laboratório investigado pela PF

Empresa suspeita de ser usada pelo doleiro Alberto Youssef para lavagem de dinheiro no exterior, segundo investigação da Polícia Federal, a Labogen não está produzindo os insumos farmacêuticos que afirma estar apta a produzir.

A Folha esteve nesta segunda-feira (14) na sede da empresa, em Indaiatuba (a 98 km de SP), e encontrou uma série de equipamentos desligados, com aparência de nunca terem sido usados.

Leonardo Meirelles, um dos sócios da empresa, afirma que o laboratório não está em operação porque passou por manutenção recente. "Mas vamos voltar a produzir normalmente. Os equipamentos estão todos funcionando", disse.

Lucas Sampaio/Folhapress
Instalações do laboratório Labogen, em Indaiatuba (SP)
Instalações do laboratório Labogen, em Indaiatuba (SP)

Meirelles e Youssef foram presos em 17 de março na Operação Lava Jato da Polícia Federal. De acordo com laudo da PF, a Labogen foi usada pelo doleiro para fazer remessas ilegais de US$ 37 milhões ao exterior. Meirelles nega.

O laboratório conseguiu financiamento do governo federal no fim de 2013 para produzir um tipo de medicamento, o citrato de sildenafila. A PF suspeita que a empresa seja de fachada e tenha sido usada para pagar propina.

Meirelles nega participar de esquema do doleiro e diz que a empresa não é de fachada, embora admita conhecer Youssef e ter recorrido a ele para um empréstimo ainda não quitado de R$ 3 milhões. "Não sou laranja do Youssef."

Reportagem da revista "Veja" desta semana afirma que Meirelles é laranja de Youssef e que a Labogen é uma empresa de fachada que foi usada para maquiar operações de câmbio de Youssef. De acordo com a revista, o laboratório faturou R$ 79 milhões entre agosto e novembro de 2010, mas sem ter fabricado nenhum medicamento.

Meirelles afirma que uma prova de que a Labogen não é empresa de fachada é o fato de pagar mensalmente R$ 100 mil por ter aderido ao Refis, programa de refinanciamento de dívidas tributárias.

"Se a empresa fosse de fachada ou não existisse, não estaria pagando impostos", diz Meirelles. "Temos 24 funcionários e estamos aptos para produzir insumos para a indústria farmacêutica."

Quando a reportagem esteve na Labogen, apenas oito funcionários estavam na sede da empresa, no distrito industrial de Indaiatuba.

Segundo relatos de vizinhos que não quiseram se identificar, a movimentação na empresa era normal até a operação da PF. Após o ocorrido, o movimento caiu e só voltou ao normal no último dia 10.

Meirelles foi solto após três semanas, mediante pagamento de fiança. Youssef continua preso. A PF também prendeu um sócio de Meirelles, Esdra Ferreira, que já foi solto. Ele não estava na sede da empresa nesta segunda.


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