Folha de S. Paulo


Fiéis fazem procissão com relíquia de são José de Anchieta; veja fotos

Cerca de 2.000 pessoas participaram na manhã deste domingo (6) de uma procissão do Pátio do Colégio à catedral da Sé, no centro de São Paulo. No trajeto, uma relíquia do padre José de Anchieta –pedaço de fêmur que seria do jesuíta– foi carregada por fiéis até o altar da catedral, onde foi bastante aplaudida.

A procissão e uma missa de ação de graças foram realizadas pela arquidiocese de São Paulo em homenagem à '[canonização do padre]":http://www1.folha.uol.com.br/poder/2014/04/1434768-canonizacao-do-padre-jose-de-anchieta.shtml, decretado são José de Anchieta pelo papa Francisco na última quinta-feira (3).

Anchieta veio para o Brasil em 1553 e participou da fundação do Colégio de São Paulo de Piratininga, berço da capital paulista.

Toda a celebração foi conduzida pelo arcebispo de São Paulo, dom Odilo Scherer. Da primeira fila do templo, o governador de São Paulo, Geraldo Alckmin, sua mulher, Lu, o prefeito de São Paulo, Fernando Haddad, também com sua mulher, Ana Estela, acompanharam a cerimônia.

Convidado ao altar, o prefeito destacou a herança deixada pelo santo para a cidade. "Anchieta deixou um legado de cultura, respeito à diversidade e ética como poucos que pisaram aqui", disse Haddad, defendendo o resgate destes valores.

Também a convite de dom Odilo, Alckmin elogiou o exemplo do jesuíta. "Padre Anchieta é um exemplo para nós católicos e para todas as pessoas de boa vontade. Ele era um homem de corpo franzino, mas fé muito forte", afirmou.

À Folha, Haddad disse que a canonização de Anchieta durante seu mandato como prefeito foi uma "feliz coincidência". "São 417 anos de espera e finalmente aconteceu. Fico feliz. Anchieta é um exemplo para todos nós", afirmou.

Geraldo Alckmin disse que a canonização do terceiro santo brasileiro é uma conquista dos cidadãos paulistas. "Hoje é dia de festa, agradecemos ao nosso amado papa Francisco", disse.

A cerimônia religiosa contou ainda com uma apresentação de Agnaldo Rayol, que cantou a música "Ave Maria", e as presenças do senador Eduardo Suplicy (PT) e do deputado federal Gabriel Chalita ).

SANTO SEM MILAGRES

A canonização de São José de Anchieta encerrou um longo processo, iniciado em 1597, logo após a morte do jesuíta nascido nas Ilhas Canárias.

Para dom Odilo, a demora de 417 anos no processo de canonização de Anchieta decorreu da difamação sofrida pelos padres jesuítas no século 18, o que levou à expulsão da ordem do Brasil em 1759.

Outro entrave para o processo era a falta da comprovação de milagres. Tradicionalmente, são necessários pelo menos dois para que alguém seja declarado santo -um para a beatificação e outro para a canonização. Anchieta não tem nenhum atestado de realização de milagres, apesar de serem várias as narrativas históricas a esse respeito.

No Brasil, pelo menos três milagres atribuídos a Anchieta eram acompanhados pela Igreja Católica. Obstáculos como a falta de exames médicos dificultavam a comprovação desses feitos -para que os milagres sejam reconhecidos, é preciso provar que não existe explicação científica para o fenômeno.

A dificuldade em comprová-los levou a uma mudança de estratégia. A alternativa foi investir na amplitude da devoção e provar que Anchieta já tinha seguidores e fiéis. Deu certo.

O milagre foi dispensado pelo papa Francisco -João Paulo 2º fez o mesmo quando confirmou a beatificação de Anchieta. "Milagre não é o mais importante. Não é o santo quem faz o milagre, é Deus, por intercessão do homem", disse Scherer na quarta-feira (2).

A concessão do título de santo sem a comprovação de milagres não é inédita. Em dezembro passado, o próprio Francisco declarou santo outro jesuíta sem milagres reconhecidos, o padre Pierre Favre. Já o papa João 23, que também será canonizado em abril, teve um milagre reconhecido quando virou beato, mas será declarado santo sem uma segunda ocorrência.

Apesar de ter nascido nas Ilhas Canárias, Anchieta ficou conhecido como o "apóstolo do Brasil" por sua atuação no país. Além de ter participado da fundação de São Paulo, em 1554, ele esteve também no Rio de Janeiro, no Espírito Santo e na Bahia.

O Brasil tem outros dois santos, Madre Paulina (nascida na Itália), canonizada em 2002, e Frei Galvão, que recebeu o título em 2007. Nascida na Itália, ela foi canonizada 60 anos após sua morte. Já no caso de Frei Galvão, único santo nascido no Brasil, a nomeação demorou 185 anos.


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