Folha de S. Paulo


Responsável por fiscalizar presos do mensalão é demitido

O chefe do núcleo de inteligência do presídio onde estão os condenados do mensalão com direito a trabalho externo foi exonerado anteontem, um dia após a Folha revelar irregularidades cometidas pelo ex-deputado Valdemar Costa Neto (PR-SP) e pelo ex-tesoureiro do PL (atual PR) Jacinto Lamas.

Responsável, entre outras coisas, por fiscalizar possíveis faltas cometidas por detentos no regime semiaberto, Valter José Faé Júnior perdeu o cargo devido às notícias sobre irregularidades e regalias, segundo apurou a Folha.

A exoneração de Valter foi publicado na quarta-feira no "Diário Oficial" do Distrito Federal. Ele exercia a função no CPP (Centro de Progressão Penitenciária), onde estão Valdemar, Lamas e outros três presos do processo.

A Secretaria de Segurança do Distrito Federal não se manifestou sobre a demissão. Valter disse à reportagem apenas que "não sabe por que foi exonerado".

A Folha revelou nesta semana que o ex-presidente do PR Valdemar Costa Neto recebeu deputados para contatos políticos e passou em um "drive-thru" do McDonald's, enquanto o ex-tesoureiro do partido Jacinto Lamas foi à Igreja, se encontrou com a mulher e fez caminhadas antes do trabalho.

Motivado pela publicação da reportagem, o Ministério Público do Distrito Federal pediu abertura de processo disciplinar para apurar atividades dos dois condenados fora do presídio.

Um detento do regime semiaberto tem autorização, de acordo com a Justiça, apenas para ir e voltar do trabalho. Não há previsão para receber parentes, visitas ou mudar o itinerário. Refeições fora só podem ocorrer excepcionalmente, e a até cem metros distante do local de trabalho.

IRREGULARIDADES

Nenhuma das atividades flagradas pela reportagem foi autorizada pela Justiça. O diretor do CPP, Carlos Henrique Gomes Lima, disse também que as situações flagradas são irregulares.

O cumprimento da pena pelos condenados do mensalão já causou atritos entre o governo do Distrito Federal, comandado pelo petista Agnelo Queiroz, e o presidente do Supremo Tribunal Federal, Joaquim Barbosa, que relatou o processo.

COBRANÇA

Barbosa fixou anteontem um prazo de 48 horas para que Agnelo se manifeste sobre supostas regalias concedidas aos condenados no esquema. Esse prazo termina oficialmente hoje.

No documento, Barbosa pede que ele responda se foi instaurada investigação interna sobre denúncias de regalias concedidas aos presos. Após o pedido de Barbosa, Agnelo negou, à imprensa, a existência de privilégios.

O advogado de Valdemar, Marcelo Bessa, afirmou que o seu cliente não desobedeceu as regras e "decidiu parar no 'drive-thru' para comprar sanduíche, sem descer do carro que o levava, uma vez que chegaria depois do horário em que o jantar é servido pelo sistema carcerário".

O advogado de Jacinto Lamas, Délio Lins e Silva, também afirmou não ver problemas no comportamento do ex-tesoureiro.


Endereço da página:

Links no texto: