Folha de S. Paulo


Sem apoio de fundos estrangeiros, Gerdau deixa conselho da Petrobras

Com apoio de investidores estrangeiros liderados pelo fundo escocês Aberdeen, o consultor José Monforte substituirá, nos próximos 12 meses, o empresário Jorge Gerdau na cadeira destinada a acionistas minoritários donos de papéis preferenciais no Conselho de Administração da Petrobras. Gerdau ocupava a cadeira havia 13 anos.

Monforte foi eleito há pouco pelos minoritários na assembleia de acionistas que acontece nesta tarde na sede da empresa, no Centro do Rio. O objetivo dos estrangeiros é ampliar a participação nas decisões de um conselho por meio de um integrante que, na visão deles, teria maior independência em relação ao controlador. Gerdau é tido como mais alinhado ao governo. Seu nome tinha o apoio do Bradesco Asset Management.

A Aberdeen Asset Management afirmou considerar a eleição de Monforte "um avanço para a geração de valor da companhia". "Monforte poderá colaborar para a adoção de modelos de gestão que visem ao interesse de todos os acionistas, em particular para a definição de uma política de preços de combustíveis. Tal definição ampliaria a capacidade de investimentos e de expansão da Petrobras no longo prazo", informou o fundo em nota.

Para a cadeira de representante dos minoritários que detêm ações ordinárias, foi reconduzido o economista Mauro Cunha, que uniu os votos dos fundos estrangeiros e do Bradesco.

Eleito pela primeira vez ao cargo no ano passado, Cunha foi o único integrante do Conselho de Administração que fez críticas à divulgação das demonstrações financeiras, apresentadas ao colegiado no dia 25 de fevereiro de 2014. Na ocasião, ele pediu para registrar e tornar pública sua insatisfação com a falta de tempo para avaliação das contas, o uso da contabilidade de hedge e a contabilização de ativos em refino.

Divulgação/Clui.org
Vista aérea da Refinaria de Pasadena, no canal de Houston, no Texas
Vista aérea da Refinaria de Pasadena, no canal de Houston, no Texas

As sete cadeiras que representam a União permanecem com os mesmos ocupantes: o ministro da Fazenda, Guido Mantega, confirmado mais uma vez presidente do Conselho de Administração; Marcos Zimmerman, Secretário Executivo do Ministério de Minas e Energia; Miriam Belchior, ministra do Planejamento; o general Francisco Roberto de Azevedo, Maria das Graças Foster, presidente da Petrobras; Luciano Coutinho, presidente do BNDES; e o engenheiro Sérgio Quintella, vice-presidente da Fundação Getúlio Vargas.

A representação dos trabalhadores no Conselho voltou para o presidente da Associação dos Engenheiros da Petrobras, Silvio Sinedino, que via sido conselheiro em 2012. Ele substitui José Maria Rangel, presidente do Sindicato dos Petroleiros do Norte Fluminense, que ocupou a vaga nos últimos 12 meses.

INSATISFAÇÃO COM PASADENA

Acionistas minoritários da Petrobras estão aproveitando a assembleia para protestar contra a aquisição da refinaria Pasadena, no Texas, o crescimento da dívida e o não repasse dos custos dos derivados ao consumidor, determinado pelo governo para impedir impacto inflacionário.

O investidor Romano Allegro afirmou ter levado ao Ministério Público Federal o pedido para investigar as responsabilidades da presidente Dilma Rousseff e o ministro da Fazenda, Guido Mantega, respectivamente ex-presidente e presidente do Conselho de Administração da empresa, no processo de aquisição da refinaria, entre 2006 e 2012. A aquisição da unidade custou, ao todo, US$ 1,18 bilhão. Em 2005, os antigos donos, do grupo belga Astra Transcor, haviam comprado a refinaria por US$ 42,5 milhões.

"Pedimos que o Ministério Público Federal tome as providências contra Dilma Vana Rousseff e Guido Mantega para ressarcir a Petrobras e seus acionistas pelos atos ilícitos", disse o acionista. A pedido de Allegro, a CVM havia feito uma investigação do caso, no ano passado, e pretendia processar administrativamente o ex-diretor da Petrobras, Nestor Cerveró, que conduziu a negociação. Mas, por ter expirado o prazo, o processo acabou arquivado.

A Cerveró foi atribuída a culpa pela elaboração do resumo executivo "falho" que Dilma alega ter recebido para embasar sua decisão de ter aprovado a compra dos primeiros 50% na refinaria, em 2006.

Outro investidor criticou o que considerou "contabilidade criativa" nas demonstrações financeiras, referindo-se ao instrumento adotado pela empresa no 2º bimestre do ano passado para reduzir o impacto da variação do câmbio nos resultados da empresa.

"Precisamos lembrar o que houve com a Enron (empresa americana de energia, que quebrou após descoberta de manobras contábeis para mascarar perdas, em 2001)", disse o investidor.

Estima-se que o procedimento para reduzir o impacto cambial, chamado de contabilidade de hedge, tenha tido um efeito positivo de R$ 8 bilhões no caixa da empresa. O integrante do Conselho de Administração Mauro Cunha havia registrado sua reprovação ao uso do procedimento quando as demonstrações financeiras foram apresentadas ao colegiado, em 25 de fevereiro.

Minoritários também reclamaram do maior nível de endividamento, que chegou a R$ 221,5 bilhões, tendo crescido de 2,5 para 3,5 vezes a geração de caixa da empresa. Em fevereiro, os conselheiros haviam determinado à presidente da Petrobras, Maria das Graças Foster, que o indicador fosse reduzido para 2,5 em dois anos.

Apesar das queixas contra o resultado financeiro da empresa, os votos da União, que são maioria, garantiram a aprovação para as demonstrações contábeis, que apontaram lucro de R$ 23,6 bilhões, 11% a mais do que em 2012. O relatório veio acompanhado de parecer do Conselho Fiscal, que, em 15 de março, alertou para a elevação do nível de endividamento da empresa e o risco de redução da nota de crédito.

Na semana passada, a agência de classificação de risco Standard and Poor's rebaixou a nota de crédito global da Petrobras de BBB para BBB-.

Foi dado, ainda, o aval para o orçamento de capital de R$ 69,7 bilhões, dos quais R$ 69,5 bilhões serão destinados a investimentos. Do lucro, R$ 9,3 bilhões serão usados para pagamentos de lucros e dividendos e outros R$ 13,96 bilhões vão compor reservas da empresa.


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