Folha de S. Paulo


Breves confrontos marcam atos contra o golpe, que reuniram centenas no Rio

Manifestações contra a ditadura militar levaram à confrontos nesta terça-feira (1º), no Rio de Janeiro. No maior conflito, participantes de um dos atos se chocaram contra a polícia em frente ao Clube Militar, próximo à praça da Cinelândia, no centro da cidade.

Às 18h40, quando havia aproximadamente 200 pessoas em frente ao clube, manifestantes atiraram pedras e bexigas com tinta vermelha contra a fachada, que estava de portas baixadas. Os cerca de 30 policiais revidaram com bombas de efeito moral e gás lacrimogêneo.

Os policiais dispersaram os manifestantes, mas não avançaram. Grupos ficaram espalhados pela avenida Rio Branco, onde a PM fez revistas pontuais e não deteve ninguém.

O ato havia sido convocado pelas redes sociais e contou militantes de esquerda. Uma das duas páginas que convocou a mobilização, chamada "Histórias de Esquerda", exibia o símbolo do PDT. A outra pertence à Frente Independente Popular, que reúne movimentos de extrema esquerda e anarquistas.

Militantes do PCB ocuparam as escadarias da Câmara dos Vereadores, localizada na Cinelândia. Com bandeiras e tambores, eles gritavam "cadeia já para os fascistas do regime militar" e também "não é mole não: é impossível acabar com o partidão".

ANISTIA

Na manifestação na Cinelândia, a ONG Anistia Internacional lançou uma campanha pela revisão da lei da anistia no país, para que sejam reabertas as investigação sobre crimes cometidos por agentes do estado.

A ideia é recolher assinaturas e enviar uma petição à presidente Dilma daqui 50 dias. A ONG fez uma linha do tempo física dos 21 anos de ditadura no país. Uma linha com réplicas de escudos verde oliva e coturnos posicionada na frente da Câmara dos Vereadores do Rio relembra datas marcantes do regime, como a da edição do AI-5, em 1968, quando houve o fechamento do Congresso Nacional.

PRAÇA DA CANDELÁRIA

Um pouco antes do protesto em frente ao Clube Militar, centrais sindicais, movimentos estudantis e partidos de esquerda realizaram um protesto pacífico praça da Candelária, também no centro do Rio. A manifestação começou com cerca de 150 pessoas.

No ato, chamado de "Descomemoração do golpe militar de 1964", sindicalistas e militantes revezam seus discursos em dois carros de som e estenderam uma faixa que dizia "ditadura nunca mais". Ao menos 100 policiais militares acompanham o movimento.

Entre os manifestantes, havia também professores municipais que fazem nesta terça uma paralização para cobrar, da Prefeitura do Rio, o cumprimento dos acordos feitos durante o movimento grevista de outubro do ano passado.

Um professor municipal, que pediu para não ter seu nome divulgado, estendeu uma grande faixa com um recado para a presidente: "Dilma, a ditadura matou jovens. Você matou o sonho dos jovens". Ele disse que a faixa é um protesto contra o que ele considerou o baixo investimento em saúde e educação.

O professor recolheu a faixa depois que duas militantes simpáticas à presidente reclamaram e o acusaram de apoiar o golpe.

Sindicalistas do setor bancário carregavam uma foto grande de Aloísio Palhano, líder sindical que foi torturado e desapareceu durante o regime.

O grupo de sindicalistas que estava na Candelária decidiu seguir em marcha até a Cinelândia pela avenida Rio Branco.

CONFLITOS MENORES

Após o primeiro foco de conflitos, iniciado em frente ao Clube Militar, no centro do Rio, outros conflitos menores ocorreram na praça da Cinelândia. Boa parte dos sindicalistas e militantes de partido deixaram a praça.

Alguns manifestantes contrários a lógica partidária discutiram com militantes do PCB e do PC do B, e ao menos três pessoas foram detidas até as 19h30.

A cada detenção ou revista, uma roda de manifestantes se forma em torno. Durante um bate boca em uma situação como essa, um policial jogou spray de pimenta na direção de fotógrafos e cinegrafistas que acompanhavam a ação.

Às 19h30, os conflitos cessaram. Havia cerca de de 200 pessoas espalhadas pela praça.


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