Folha de S. Paulo


Estudiosos elogiam reportagem sobre os 50 anos do golpe

Especialistas ouvidos pela Folha elogiaram o site Tudo Sobre a Ditadura Militar e sua síntese impressa, o caderno sobre os 50 anos do golpe de 1964, publicados ontem.

Vários destacaram o equilíbrio dos textos e os recursos de áudio e vídeo. Alguns deles fizeram críticas e apontaram omissões. Para o sociólogo Marcelo Ridenti, "o formato didático da exposição digital facilita a comunicação com as novas gerações". Ele reclamou, porém, que os entrevistados eram todos homens. "[A reportagem] poderia ter ouvido as interpretações de algumas mulheres", afirmou.

Sobre o conteúdo, Ridenti disse ter apenas uma discordância. "O texto inicial diz que direita e esquerda tinham igual desprezo pela democracia. Mas o fato é que quem deu o golpe foi a direita. Depois fizeram vários inquéritos e nunca encontraram indícios de golpe pela esquerda".

A historiadora Heloísa Starling classificou como "extraordinária" a reprodução de dois vídeos da época: um filme do Ipes, órgão de estudos sociais que atuava para desestabilizar Jango, e uma propaganda oficial de 1963 pela reforma agrária. Gostou também do quadro "E se...?", com conjecturas sobre eventos que não ocorreram, como a resistência janguista.

Para Starling, o site poderia explorar mais a oposição no meio cultural. Ela acha ainda que é errado sugerir que não houve resistência no dia do golpe: "Teve uma resistência desordenada. Gregório Bezerra (militante de esquerda) foi torturado em Recife, houve confrontos no Rio, em Porto Alegre, estudantes entrincheirados na UNE".

O cientista político Rui Tavares Maluf, que disse ter apreciado o material, sugeriu a colocação do áudio da fala de Delfim Netto apoiando o AI-5. O site mostra a fala de Jarbas Passarinho, outro presente na reunião de 1968 que decidiu pelo ato. "Delfim agora colabora com forças da esquerda, mas nunca fez autocrítica", diz.

O historiador Lincoln Secco também chamou a atenção para Delfim. "Ele fala da reorganização da economia de forma superficial. Teve proibição de greves, intervenção em sindicatos. A matéria poderia ter sido mais crítica".

Como pontos fortes ele cita a "crítica à insuficiência" da Comissão da Verdade e o texto sobre a colaboração da imprensa com a ditadura. Historiador e professor, Fábio Bezerra afirmou que o material será útil em salas de aula. Ele disse ter sentido falta de dados a respeito da imprensa alternativa.

O filósofo Gilberto de Mello Kujawski elogiou a iniciativa. E fez uma sugestão: "Dentre as diversas hipóteses sob o título 'E se...?', cabe mais esta: E se Tancredo não tivesse morrido?"

Rodrigo Patto Sá Motta, que está lançando "A Ditadura que Mudou o Brasil", em coautoria com Ridenti e Daniel Aarão Reis, também elogiou: "[Os textos] pareceram-me baseados em adequada pesquisa, resultando em uma narrativa bem informada".


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