Folha de S. Paulo


Marcha da Família com Deus reúne cerca de 700 pessoas em SP; quatro são detidos

Cerca de 700 pessoas se reuniram na Marcha da Família com Deus 2 neste sábado (22), no centro de São Paulo, segundo estimativa da PM. Eles deixaram a praça da República, onde se concentraram, em direção à praça da Sé. Quatro pessoas foram detidas pela polícia.

Em um trio elétrico com faixas com os dizeres "FFAA [Forças Armadas] já", "Voto facultativo = liberdade" e "Comunismo é morte", organizadores fazem discursos de cunho nacionalista, exaltando os militares e criticando o atual governo petista, que associam com o comunismo.

Os participantes, em sua maioria, vestem roupas brancas, verdes e amarelas e levam a bandeira do país. Há faixas que pedem "desmilitarização da PM não" e imagens religiosas. A reportagem não identificou bandeiras de partidos políticos. Uma estátua de Nossa Senhora de Fátima foi erguida no trio elétrico.

Uma das organizadoras da nova marcha, Cristina Peviani, afirmou à reportagem estar satisfeita com a mobilização. "É pra mostrar que ainda existe a família tradicional e conservadora", disse. Segundo Peviani, a organização da manifestação, incluindo o aluguel de trio elétrico e ônibus, foi paga pelos participantes, que se reuniram em "vaquinhas".

Entre os gritos da manifestação estavam "Verde, amarelo, sem foice, sem martelo" e "Fora PT". O hino nacional foi entoado diversas vezes.

ATRITOS

Pessoas que se manifestaram contra a marcha foram hostilizadas pelos participantes. Em muitos casos, tiveram que ser isoladas pela polícia.

Dois garotos usando roupas femininas e com cartazes com os dizeres "Marcha (praticamente da) família" e "Marchinha quase da família" tiveram seus pertences rasgados e foram expulsos pelos manifestantes. Um deles levou um chute.

Quando o ato chegou à praça da Sé, uma garota foi levada pela polícia. Ela atirou spray em uma bandeira nacional levada por manifestantes, segundo testemunhas. Diversas pessoas correram atrás dela, que se escondeu em uma farmácia, de onde saiu apenas com a presença dos PMs. Na confusão, um homem e um policial ficaram feridos.

Segundo a PM, 900 policiais fizeram a segurança das marchas que aconteceram neste sábado no centro de São Paulo.

REPRISE

Em 19 de março de 1964, poucos dias antes do golpe militar, meio milhão de pessoas foram às ruas na "Marcha da Família com Deus, pela Liberdade", da praça da República até a Sé, em São Paulo.

O movimento foi considerado naquela época a maior manifestação popular já vista no Estado de São Paulo. A marcha teve contornos políticos, com pessoas pedindo a preservação da Constituição, a manutenção de um regime democrático e o impeachment do então presidente João Goulart.

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