Folha de S. Paulo


Após derrotar Dilma, líder do PMDB irá ao Planalto

Depois de comandar uma revolta de aliados contra Dilma Rousseff, o líder da bancada do PMDB na Câmara, Eduardo Cunha (RJ), foi chamado pelo Palácio do Planalto para negociar e se reunirá com pelo menos dois ministros na segunda-feira.

Na mesa do encontro estará o mais recente temor do governo, o de ver o Marco Civil da Internet ser derrotado no plenário da Câmara.

Pedro Ladeira - 11.mar.2014/Folhapress
O líder do governo na Câmara, Arlindo Chinaglia (PT-SP) e o líder do PMDB, Eduardo Cunha (RJ) durante sessão que aprovou a criação de uma comissão externa para acompanhar a investigação de denúncias relacionadas à Petrobras
O líder do governo na Câmara, Arlindo Chinaglia (PT-SP) e o líder do PMDB, Eduardo Cunha (RJ) na sessão que aprovou comissão externa para acompanhar apuração de denúncias sobre a Petrobras

Cunha é um dos principais opositores ao projeto, cuja relatoria é feita pelo PT. Caso não consiga mudar a posição do peemedebista, o Planalto já admite retirar o caráter de urgência na tramitação da matéria, que é o primeiro item da pauta de votações do plenário da Câmara para a próxima semana.

Caso isso ocorra, Dilma sofrerá a terceira derrota aplicada pelo chamado "blocão" –grupo liderado pelo PMDB que reúne partidos aliados insatisfeitos com o governo. Na terça e na quarta, os rebelados aprovaram a criação de comissão para acompanhar investigações sobre supostas irregularidades na Petrobras, além de chamar 10 dos 39 ministros para dar explicações ao Congresso.

Cunha afirma que vai se reunir na segunda-feira com os ministros Aloizio Mercadante (Casa Civil) e José Eduardo Cardozo (Justiça), principal articulador do Marco Civil da Internet.
Mas, segundo o Planalto, a reunião será com Cardozo, Ideli Salvatti (Relações Institucionais) e o vice-presidente Michel Temer, que tem sido escalado pelo governo para tentar controlar o aliado.

A aproximação do Planalto com o líder da bancada do PMDB ocorre após a tentativa inicial, que se mostrou fracassada, de isolá-lo politicamente. Cunha, agora, já fala em "distensionamento".
"É claro que vamos procurar distensionar o clima, não tem sentido ficar com esse clima beligerante o tempo todo", afirmou ele ontem.

O peemedebista disse que seria uma "boa estratégia" o governo retirar o regime de urgência do Marco Civil da Internet. O projeto é tratado com prioridade pelo Planalto porque Dilma pretendia apresentá-lo na conferência internacional sobre governança na internet que o Brasil sediará em abril.

DESMONTE

Na prática, dos oito partidos governistas que integravam o blocão, só restam quatro: PMDB, PR, PTB e PSC.

Na próxima terça-feira, o PR deve formalizar a saída do "blocão". O Planalto tem sinalizado que vai atender demandas antigas da legenda, como o preenchimento de cargos no segundo escalão do Ministério dos Transportes, que é da cota do partido, além de nomeações no Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes. O PTB deve levar uma estatal.

Surtindo efeito, o governo espera desmontar o blocão, reduzindo o poder de Cunha, que aproveitou a insatisfação dos demais aliados do governo para derrotar Dilma.

JOGO DE CENA

O ministro Gilberto Carvalho (Secretaria-Geral da Presidência) afirmou ontem que a revolta liderada pela bancada do PMDB contra Dilma envolve um "certo jogo de cena" e que a tendência é que os ânimos sejam apaziguados nas próximas semanas.

"É um pouco de jogo de cena, um pouco do teatro político, digamos assim, que é natural", disse ele.

Na quarta-feira, o presidente do PT, Rui Falcão, havia afirmado que Dilma é vítima de "chantagem" e de tentativa de "toma lá, dá cá".

Colaboraram MÁRCIO FALCÃO e MARIANA HAUBERT, de Brasília


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