Folha de S. Paulo


Presidente do PMDB admite crise e diz que vai 'apagar incêndio'

Presidente do PMDB, o senador Valdir Raupp (RO) disse nesta quinta-feira (6) que vai tentar "negociar até o limite" para acabar com a crise entre PT e lideranças do PMDB, deflagrada durante o Carnaval. Com críticas a lideranças petistas que acusaram peemedebistas de "chantagem" de olho em cargos no primeiro escalão do governo, Raupp disse que os dois partidos precisam "discutir a relação".

"Todo casamento chega um ponto em que precisa discutir a relação. O que falta é ter um pouco mais de diálogo. Chantagem é um termo muito forte. Só pode ter partido de um desavisado que chegou atropelando com essa comparação. Em política existem pressões, tensões e conflitos. Mas colocar mais lenha na fogueira nesse momento não vai diminuir as chamas. Temos é que colocar muita água para diminuir a fervura", afirmou.

O presidente do PMDB não descarta antecipar a convenção nacional do partido para abril, quando seria rediscutida a aliança nacional da sigla com o PT. Várias alas peemedebistas defendem que a convenção ocorra em abril, e não em junho, diante da troca de farpas entre as duas legendas.

Raupp lembrou que há outras instâncias da sigla que podem ser convocadas, como o conselho político, mas disse que cabe à convenção definir os rumos do PMDB. "Seria um convenção extraordinária porque ela não teria força de lei. As decisões só podem sair depois de junho. Neste momento, o maior problema são as alianças regionais", afirmou.

Os insatisfeitos somam mais de 50% dos 742 votos da convenção do PMDB. Os principais problemas estão no Rio de Janeiro que reúne 74 votos, Maranhão e Amapá de José Sarney com 50 votos, Ceará de Eunício Oliveira com 51 votos, Bahia de Geddel Vieira com 28 votos, Paraná de Roberto Requião com 52 votos.

A crise PT-PMDB começou há algumas semanas, depois que a bancada do PMDB da Câmara desistiu de indicar nomes para a reforma ministerial da presidente Dilma Rousseff. A decisão foi em represália à disposição de Dilma de retirar uma das pastas controladas pelos deputados peemedebistas –que hoje são os Ministérios da Agricultura e do Turismo.

Ao mesmo tempo, Dilma irritou os senadores do PMDB ao retardar a escolha do senador Vital do Rêgo (PMDB-PB) para um de seus ministérios. A petista acabou indicado Vital para o Turismo, que é da cota da Câmara, em um gesto que desagradou as duas bancadas.

Aliado do governo, o senador Gim Argello (PTB-DF) também reclamou da condução do governo na reforma ministerial. O senador disse que o "sinal vermelho" chegou ao Palácio do Planalto. Assim como o PMDB, o PTB espera ampliar espaço no primeiro escalão do governo.

"Uma reforma que deveria ser simples, durou seis meses. Quantas reformas já passaram e não duraram tudo isso? Está errado, está na hora de acabar com isso porque senão começam a se consolidar posições adversas."

ALIANÇA

Além da crise deflagrada com a reforma ministerial, PT e PMDB enfrentam problemas nas alianças regionais entre as duas siglas. No Ceará, Dilma insiste em apoiar um candidato do governador Cid Gomes (Pros) ao governo do Estado, mesmo com a disposição do líder do PMDB no Senado, Eunício Oliveira (CE), em disputar o cargo.

O ápice da crise ocorreu durante o Carnaval, quando o líder do PMDB na Câmara, Eduardo Cunha (RJ), defendeu publicamente a rediscussão da aliança entre PT e PMDB. Cunha também trocou farpas com o presidente do PT, Rui Falcão, e com o presidente do PT do Rio de Janeiro, Washington Quaquá.

Em sua conta no twitter, Cunha disse nesta quinta que Falcão se "faz de vítima" e reclamou de ser "agredido pelo petista". Já em relação a Quaquá, Cunha disse que o petista é "pliantra" e deveria ocupar "páginas policiais" dos jornais.

A insatisfação do PMDB com o PT e o Palácio do Planalto foi um dos temas discutidos na quarta-feira entre a presidente Dilma Rousseff e o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Maior aliado do PT na coalizão dilmista, o PMDB tem ensaiado uma rebelião no Congresso e lidera a criação de um bloco "independente" de oito partidos na Câmara. Segundo interlocutores de Lula, o ex-presidente avalia que Dilma não está sendo hábil na relação com o PMDB.


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