Folha de S. Paulo


Planalto mobiliza recursos para evitar 'blocão' de independentes na Câmara

Em resposta à articulação de aliados para a criação de um "blocão" de independentes na Câmara dos Deputados, o Palácio do Planalto montou nesta segunda-feira (24) um pacote de bondades para tentar conter a ameaça de rebelião dos governistas que tem potencial para criar dificuldades nas votações.

O governo decidiu mobilizar 12 ministérios para atender demandas dos congressistas, prometeu cumprir liberação de verbas para as obras apadrinhadas por deputados e senadores no orçamento de 2013, além de elaborar uma pauta de votações de consenso.

Apesar da mobilização palaciana, os aliados prometem seguir na formação do novo grupo capitaneado pelo PMDB em conjunto com PP, PR, PTB, PDT, Pros, PSC e o oposicionista Solidariedade, que somam mais de 250 dos 513 deputados. O blocão, inclusive, tem reunião programada para terça-feira (25), na qual deve definir uma estratégia conjunta de atuação.

As queixas foram apresentadas hoje pelos líderes governistas ao vice-presidente, Michel Temer, e aos ministros Aloizio Mercadante (Casa Civil) e Ideli Salvatti (Relações Institucionais). Eles ouviram um rosário de críticas que foi repetido inclusive pelo próprio PT.

Os governistas atacaram a falta de interlocução com o governo, o rompimento de acordos para o pagamento das chamadas emendas parlamentares, a interferência do Planalto na pauta da Casa, além de privilégios ao PT e tratamento diferenciado para aliados no Senado.

O ritmo de liberação de verbas para as obras dos congressistas indicadas no orçamento foi a principal crítica, inclusive do líder do PT, Vicentinho (SP). O Planalto teria sinalizado que vai executar a liberação dos recursos acertados no ano passado, que ficou entre R$12 milhões e R$15 milhões a depender do parlamentar. Na bancada do PSD, há relatos de que teve deputado com promessa de receber R$12 milhões e só foram pagos cerca de R$600 mil.

Ficou acertado ainda que os ministérios mais demandados pelos parlamentares vão criar um espaço de interlocução direta com o Congresso, dando mais atenção aos pleitos dos congressistas para seus redutos eleitorais. A medida vale para áreas prioritárias como saúde, educação, transportes, agricultura, desenvolvimento social, entre outras.

Segundo relatos dos presentes, o líder do PMDB, Eduardo Cunha (RJ), foi um dos que mais mostraram insatisfação com o governo. Ele afirmou de forma enfática que não aceita votar a proposta do governo para o Marco Civil da Internet. O governo não aceita retirar a proposta da pauta de votações da Câmara, mas os ministros e Temer ficaram de marcar uma reunião entre Cunha e integrantes do governo para debater o assunto.

Apesar das reclamações e da grande insatisfação nos bastidores, os deputados afirmaram que não pretendem romper com Dilma ou derrotar o governo no plenário, o que incluiria a aprovação de projetos que representam aumento de gastos, a chamada pauta bomba.

"Não tem integração da pauta do governo com a pauta dos deputados", afirmou o deputado Eduardo da Fonte (PE), líder da bancada do PP, que classificou a reunião como um exercício de "DR, de discutir a relação".

"Parece que o governo acordou para o problema e a insatisfação. É preciso jogar claro ", reforçou o líder do PSD, Moreira Mendes (RO).

Os ministros fizeram uma mea culpa e tentaram minimizar um eventual racha na base. Na reunião, não houve um pedido direto para esvaziar o "blocão", mas os parlamentares entenderam que a intenção do Planalto era neutralizar a composição do grupo.

"O blocão permanece firme, até porque é uma ação para fortalecer a Câmara", disse o líder do PSC, André Moura (SE).

REFORMA

O Planalto aposta que a instabilidade na base aliada deve diminuir e o blocão deve perder fôlego quando a reforma ministerial e os ajustes para as alianças estaduais para as eleições de outubro forem concluídos. Isso porque as bancadas têm pleitos diversificados e podem se chocar muitas vezes.

"Temos uma situação da reforma ministerial que não foi concluída. Temos a situação do processo eleitoral e do fechamento das alianças. Tudo isso acaba aquecendo o ambiente. A nossa tarefa é colocar água na fervura e tocar os trabalhos, porque o ano é curto", disse Ideli.

"É evidente que havia um mau humor, uma insatisfação, e vamos batalhar para resolver isso", disse o líder do governo na Câmara, Arlindo Chinaglia (PT-SP). "Já deu para perceber onde precisa de mais azeite para a máquina funcionar", completou.

Na reunião, o "blocão" também definiu que dificilmente haverá votações relevantes nesta semana na Câmara, o que deve antecipar o feriado de Carnaval para os deputados.


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