Folha de S. Paulo


Índios presos no AM mataram três pessoas e esconderam corpos, diz PF

A Polícia Federal apontou índios da etnia tenharim da região de Humaitá (AM) como os responsáveis pelo assassinato, dentro de uma aldeia da etnia, de três homens que estão desaparecidos desde o mês passado. A PF afirmou ainda que os suspeitos ocultaram os cadáveres.

A PF divulgou nota nesta sexta-feira (31) sobre a investigação. Uma ação na noite de quinta-feira (30) prendeu cinco índios suspeitos dos crimes. Todos vivem em aldeia localizada entre os kms 100 e 150 da BR-230, no sul do Amazonas.

A pedido da PF, a Justiça Federal expediu cinco mandados de prisão temporária contra os suspeitos.

"As conclusões da investigação apontam para a ocorrência de homicídio praticado pelos presos dentro de uma das aldeias e posterior ocultação dos cadáveres. Os corpos ainda não foram localizados", informou a PF.

O funcionário da Eletrobras Aldeney Salvador, o representante comercial Luciano Ferreira e o professor Stef de Souza viajavam juntos pela rodovia Transamazônica no dia 16 de dezembro quando desapareceram.

No início deste mês, policiais localizaram peças de carro queimadas dentro da terra indígena tenharim. A PF ainda não divulgou o resultado da perícia sobre o material.

O desaparecimento dos três homens desencadeou violentos protestos em Humaitá no fim de dezembro. Moradores atearam fogo à sede local da Funai e destruíram veículos e barcos que transportavam índios.

Policiais federais já percorreram cerca de 270 hectares da área tenharim, com a ajuda de cães farejadores, na tentativa de localizar os possíveis cadáveres. Também foram empregados equipamentos de rastreamento das peças metálicas escondidas.

RETALIAÇÃO

Na época das revoltas contra os indígenas da região, a população não indígena chegou a acreditar que os desaparecimentos teriam sido provocados por índios tenharim em retaliação à morte do cacique Ivan Tenharim, 55.

A versão da polícia, segundo a qual o índio morreu em um acidente de carro, foi questionada em post um no blog da Funai. Moradores acreditam que o texto teria incitado os índios. Depois do episódio, a Funai exonerou o coordenador regional que publicou o post, apontando-o como incentivador da tensão.

A família do cacique não partilhava da suspeita de que a morte foi mais do que um acidente. "Em nenhum momento a gente falou que o meu pai foi assassinado. A gente não protestou nem chegou a acusar ninguém", disse Gilvan, 24, filho de Ivan. Ele explicou que a família não autorizou a autópsia completa por questões culturais.

FAMILIARES ESPERAM INFORMAÇÕES

Após a divulgação da prisão dos índios, parentes de um dos homens desaparecidos foram buscar informações na PF em Porto Velho, para onde os índios suspeitos foram levados.

Jairo Barbosa/Folhapress
Familiares de homem que, segundo a PF, foi morto por índios tenharim
Familiares de homem que, segundo a PF, foi morto por índios tenharim

Chorando, o pai e o irmão de Stef de Souza (43) diziam ainda não acreditar na morte do professor, um dos três desparecidos em Humaitá. A PF não encontrou os corpos, mas dá as mortes como certas.

"Quem garante que a Justiça irá manter esses índios presos? Prisão nenhuma vai amenizar a dor que estamos sentindo. A esperança era que fossem encontrados vivos, mas isso acabou", disse Stefanon Pinheiro de Souza, irmão do professor.

Editoria de arte/Folhapress

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