Folha de S. Paulo


Retrospectiva: 'Pop', papa Francisco leva novo estilo ao Vaticano

As surpresas do jesuíta argentino Jorge Mario Bergoglio ao ser escolhido papa começaram momentos após a eleição, em 13 de março. Em sua primeira e emocionada fala na sacada do Vaticano, não se referiu a si mesmo como "papa" (se designou como "bispo de Roma") e pediu a bênção dos católicos na praça São Pedro.

E, é claro, a própria escolha de seu nome surpreendeu, já que, nos oito séculos desde o nascimento de são Francisco de Assis, nenhum papa ousara usar seu nome. A estranha mistura de ousadia e humildade continua marcando o papado de Francisco. Ele substituiu Bento XVI, escolhido em 2005 e que renunciou em fevereiro.

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Francisco foi o primeiro papa a criar um "Senado" permanente de cardeais para aconselhá-lo na reforma da Igreja. E tomou a iniciativa de consultar os fiéis sobre questões polêmicas –de casamentos desfeitos a relacionamentos homossexuais–, para obter subsídios para o sínodo (reunião internacional dos bispos) do ano que vem.

Também se mostrou tão carismático quanto o primeiro "papa pop", João Paulo 2º. Foi eleito personalidade do ano pela "Time" e reuniu multidões na Jornada Mundial da Juventude, no Brasil.

Ao mesmo tempo, por enquanto, tem sido uma figura muito mais apaziguadora que seu antecessor polonês, ao transformar a misericórdia divina no centro de sua mensagem e em especial ao evitar bater em teclas que faziam a Igreja parecer monotemática nas últimas décadas, como o aborto e o casamento gay.

Em seu primeiro grande documento, a exortação apostólica "Evangelii Gaudium" ("A alegria do Evangelho"), publicado em novembro, também se mostrou menos temeroso do mundo moderno.

Ressaltou, por exemplo, que a mensagem cristã tem de abandonar a roupagem tradicional para alcançar as pessoas de hoje. E lançou a condenação papal mais dura já feita contra o lado desumano do capitalismo.

Resta saber se essas mudanças, que por enquanto são de estilo e de ênfase, e não de substância, serão suficientes para devolver ao catolicismo o ímpeto para conquistar corações e mentes.


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