Folha de S. Paulo


Análise: Boeing seria melhor para os pilotos, mas Gripen é melhor para o país

O governo andou em círculos e acabou voltando aos caças Gripen NG, da sueca Saab, opção vitoriosa do relatório técnico da FAB, revelado com exclusividade pela Folha em 5 de janeiro de 2010, por ser o mais barato e o que traz mais tecnologia ao país.

Os Gripen NG não foram anunciados na época porque o governo Lula tinha uma clara preferência política pelos Rafale, da francesa Dassault, que era o mais caro --na compra e na manutenção-- e ficou em terceiro e último lugar no relatório. No segundo lugar, entre a vontade política e a conclusão técnica, ficaram os F-18, da norte-americana Boeing.

Esse confronto entre política e técnica paralisou o processo, que varou o governo Lula e foi parar nas mãos da presidente Dilma Rousseff, até o limite do prazo: a família Mirage sai de operação no fim do mês, deixando a FAB quase a descoberto.

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Na própria FAB, que sempre resistiu aos franceses por causa do preço, o que se disse todo o tempo é que "o Boeing é melhor para os pilotos e o Gripen é o melhor para o Brasil".

Explica-se: os EUA e, particularmente, a Boeing, são os gigantes na área de Defesa e têm os aviões dos sonhos de todos os pilotos do mundo, mas o Gripen NG é um projeto em desenvolvimento, baseado no Gripen original, e será concluído em conjunto, trazendo mais tecnologia em diferentes áreas, inclusive civis, para o Brasil.

Os argumentos contra o Gripen na área política eram dois: ainda está sendo desenvolvido e é monomotor. Para a Comissão técnica, porém, nenhum dos dois quesitos é impeditivo e até tinham vantagens, em vez de desvantagens: os técnicos brasileiros participam da construção e ser monomotor torna o avião mais leve e mais barato.

O próprio Comando da Aeronáutica parecia titubear na preferência ora pelo Gripen, vitorioso da comissão técnica, que ouviu inclusive a Embraer e outras companhias nacionais, ora pelo Boeing, que tinha a simpatia do comandante, brigadeiro Juniti Saito. Ele admitia o Gripen como boa opção, só não concordava com o Rafale.

Não precisou muito esforço, porque os Rafale perderam o seu grande trunfo: o político. A França votou na ONU contra o acordo do Irã intermediado pelo Brasil e a Turquia e na OMC contra a indicação de um brasileiro para a direção-geral da entidade. E a denúncia de espionagem derrubou a opção norte-americana.

Depois de dez anos e de andar em círculos e ao sabor da vontade política do governo Lula, a FAB chegou ao dia "D" com argumentos escritos defendendo qualquer que fosse a decisão do Planalto. Anunciado o caça vencedor, bastava puxar o texto da gaveta.

Com o anúncio do Gripen NG, fica tudo mais fácil: é só brandir as cerca de 30 mil páginas do relatório original, de quatro anos atrás.


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