Folha de S. Paulo


Análise: Programa de Aécio acena para o mercado, mas sem propor ações concretas

Quando não está repetindo chavões e platitudes, o esboço de programa do senador Aécio Neves (PSDB-MG) procura assegurar ao tucano a condição de candidato preferido do mercado.

Ou, mais especificamente, dos que tomam as decisões de investir, contratar e, principalmente, emprestar ao governo --um segmento contrariado com o baixo crescimento econômico e a desordem fiscal sob Dilma Rousseff.

Para essa minoria influente, o mineiro acena com inflação dentro da meta, limites à expansão de gastos públicos, gestão profissional das empresas estatais e das agências reguladoras.

A tarefa de Aécio é facilitada pela falta de concorrência. A administração petista já deixou claro que não vê necessidade de ajustes nas contas do Tesouro Nacional ou de endurecimento nos juros do Banco Central.

O outro grande concorrente potencial ao Palácio do Planalto, o governador Eduardo Campos (PE), é de um partido socialista até outro dia aliado de Dilma. Marina Silva, que disputava a simpatia do mercado, parece hoje fora do páreo.

NADA DE CONCRETO

Sem competição, o tucano aproveita para não propor nada de concreto. Prometer inflação na meta de 4,5% ao ano, por exemplo. O BC atual já promete, também sem dizer quando nem como.

Também não se sabe que controle de despesas defende Aécio, um entusiasmado defensor no Senado de projetos de aumentos de gastos --a bancada governista teve de conter o ímpeto tucano, por exemplo, na expansão do orçamento da saúde.

De mais palpável, o mineiro defende a "redução do número de ministérios pela metade" --o que pode trazer ganhos de gestão, mas uma economia imediata insignificante para as dimensões do Orçamento da União.

"A máquina estatal agigantou-se e passou a consumir recursos escassos que deveriam estar servindo à melhoria da qualidade de vida dos brasileiros", nas palavras do documento tucano, é um diagnóstico fácil e falso.

Praticamente toda a expansão do gasto público nos últimos anos é explicada pela área social, o que torna o tema muito mais complexo politicamente.

Os principais responsáveis pela deterioração das contas públicas são os programas de transferência de renda --caso de aposentadorias, seguro-desemprego e Bolsa Família-- e a educação.


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