Folha de S. Paulo


Para destravar Orçamento, Planalto negocia bônus de R$ 2 mi para obras de parlamentares

Numa tentativa de destravar a votação do Orçamento de 2014 no Congresso, o Planalto negociou nesta terça-feira (17) o pagamento até o fim do ano de um "bônus" de R$ 2 milhões em verbas para as obras apadrinhadas por deputados e senadores, as chamadas emendas parlamentares, que fazem parte do Orçamento de 2013.

Segundo líderes governistas ouvidos pela Folha sob condição de anonimato, a verba extra foi garantida para integrantes da Comissão Mista de Orçamento, presidentes das comissões permanentes e líderes partidários. Mais de 100 congressistas seriam favorecidos, em uma conta que pode chegar a pelo menos R$ 220 milhões.

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Nesse ano, o governo assegurou a liberação de R$ 10 milhões para cada um dos 594 parlamentares. Em alguns casos, especialmente de líderes mais alinhados com o Planalto, a cota foi superada, atingindo mais de R$ 12 milhões. Nessa situação, o bônus poderia elevar o pagamento para até R$ 15 milhões, que é o valor máximo.

A oposição, no entanto, reclamava que, dos R$10 milhões prometidos, apenas R$5 milhões tinham recebido liberação. O governo já recorreu a uma cota extra de emendas para a cúpula do Congresso em anos anteriores para aprovar o orçamento.

No plenário, o presidente da Câmara, Henrique Eduardo Alves (PMDB-RN), disse que foi informado de que houve um acordo para a votação do orçamento pela comissão. Ele não entrou em detalhes do entendimento.

Alan Marques/Folhapress
Presidente da Câmara dos Deputados, Henrique Eduardo Alves, em reunião com líderes da Casa
Presidente da Câmara dos Deputados, Henrique Eduardo Alves, em reunião com líderes da Casa

RISCO DE INVESTIMENTO

Líderes governistas dizem que o Planalto está empenhado em garantir a análise do Orçamento 2014 antes do início do recesso parlamentar, marcado para a próxima segunda-feira (23), para evitar os efeitos do atraso sobre o mercado.

Em março, o país deve ser reavaliado por agências internacionais de risco. O governo teme que, sem o Orçamento, a nota do risco de investimento possa ser alterada, já que há desconfianças em relação à economia brasileira, que tem sido fortemente criticada por maquiagens contábeis.

Sem a proposta orçamentária aprovada, na prática, o governo estaria impedido apenas de patrocinar novos investimentos.

A ministra Ideli Salvatti (Relações Institucionais) chegou a procurar nesta segunda (16) líderes governistas e subiu o tom, avisando que, sem a aprovação do Orçamento de 2014, o governo não se compromete em não vetar uma das principais bandeiras do presidente da Câmara, as emendas impositivas.

Trata-se de regra inserida na LDO (Lei de Diretrizes Orçamentárias) que prevê o pagamento obrigatório de verbas para obras indicadas por deputados e senadores. Os recursos são destinados, na maior parte das vezes, a empreendimentos nos redutos políticos dos congressistas.

A medida teve efeito especial no PMDB, que fechou a questão independentemente do pagamento de emendas. "Não tratamos de emendas. Nós ficaremos satisfeitos com as emendas impositivas, que são a nossa bandeira", afirmou o líder do PMDB, Eduardo Cunha (RJ).

FUNDO PARTIDÁRIO

Um dos entraves é a verba na votação do Orçamento é o fundo partidário. Deputados e senadores tentam inflar em R$ 100 milhões os valores desses recursos, que são usados para manter a infraestrutura das siglas e para vitaminar campanhas eleitorais.

O fundo partidário é composto por recursos garantidos pelo Tesouro e por multas pagas à Justiça Eleitoral. Por ter a maior bancada de deputados, o PT é quem mais recebe recursos. A proposta original enviada pelo governo fixou em R$ 264 milhões o fundo para 2014.

Agora, congressistas querem elevar o valor para R$ 364 milhões, superando os padrões adotados em 2013 (R$ 324 milhões) e em 2012 (R$ 301 milhões).

Na semana passada, o STF (Supremo Tribunal Federal) começou a julgar uma ação que pede o fim do financiamento privado de campanhas. Quatros dos 11 ministros da Corte votaram a favor da medida. As doações de empresas são, hoje, a maior fonte de dinheiro para partidos nas campanhas eleitorais. A decisão do Supremo deve ser concluída só em 2014, já que o ministro Teori Zavascki fez pedido de vista do processo.


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