Folha de S. Paulo


Mensalão é 'tsunami de manipulação', diz presidente do PT

Em discurso na abertura do 5º Congresso Nacional do PT, em Brasília, o presidente da legenda, Rui Falcão, afirmou que o julgamento do mensalão pelo Supremo Tribunal Federal foi um "tsunami de manipulação" e disse que ninguém pode dar lições ao partido sobre ética e justiça social. Ele cobrou ainda o julgamento do chamado mensalão tucano e pediu mais apuração sobre denúncias de corrupção envolvendo o PSDB em São Paulo.

"No tsunami de manipulação que foi o processo político e judicial da AP 470, tentaram incutir nas mentes do povo a ideia de que a origem de tudo teria sido uma política equivocada de aliança pela governabilidade, concebida pelo PT", disse.

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O petista afirmou também que "a história vai provar" que os petistas não cometeram os crimes pelos quais foram condenados. "Repito, sem titubear: nenhum companheiro condenado comprou votos no Congresso Nacional, não usou dinheiro público, nem enriqueceu pessoalmente", disse.

Pedro Ladeira/Folhapress
O presidente nacional do PT, Rui Falcão, discursa na abertura do 5º Congresso Nacional do PT
O presidente nacional do PT, Rui Falcão, discursa na abertura do 5º Congresso Nacional do PT

Sem citar nominalmente o julgamento do mensalão, Rui Falcão afirmou que "ninguém pode se arvorar no direito de nos dar lição de ética. Ninguém pode se arvorar no direito de nos ensinar qual o verdadeiro sentido da política. Ninguém pode se arvorar no direito de nos ensinar o que significa justiça social. Mas nós, sim, podemos e devemos dar uma lição permanente, a nós mesmos, de renovação, autocrítica e de avanço", disse.

Para o petista, "vozes reacionárias" tentam "destruir o que é indestrutível" e "pela força da mentira e da mistificação", tentam diminuir o papel do partido. "O Brasil mudou, em vários sentidos, graças à existência do PT", afirmou.

Rui Falcão cobrou ainda o julgamento do chamado mensalão tucano, que envolve políticos do PSDB de Minas Gerais e questionou um suposto tratamento diferenciado da imprensa em relação ao "trensalão do governo tucano de São Paulo".

"Surpreendentemente, o suposto sentimento de punição e justiça continua sem alcançar determinados setores e partidos, o que caracteriza uma inegável situação de dois pesos e duas medidas", disse. Segundo Falcão, "nunca antes neste país se combateu tanto a corrupção como nos governos" do PT.

Após o desagravo, Falcão afirmou que o partido não fará uma campanha eleitoral "no estilo mar de lama como nossos adversários estão acostumados. "Mas se enganam os que pensam que vamos levar injustiça e desaforo para casa", disse.

Os militantes do partido interromperam o discurso por diversas vezes para aplaudir e proferir palavras de ordem em defesa dos condenados do mensalão.

COBRANÇAS

Apesar das críticas, Rui Falcão pediu ao partido que se comprometa com o projeto nacional de reeleição da presidente Dilma Rousseff. "[Precisamos] travar a disputa de ideias na sociedade, defender os nossos valores, elevar o nível de consciência da população, convidá-la a participar da política, que a mídia conservadora tanto abomina", disse.

Falcão destacou os resultados das últimas pesquisas eleitoras em que Dilma aparece com maioria de intenção de votos e disse que o Brasil quer "continuar mudando com o PT". "Mas esta confiança não pode significar, em nenhum momento, ficarmos de salto alto. Estamos bem, somos favoritos, mas nada de triunfalismo, de soberba ou de subestimação dos adversários", disse.

Apesar do apelo, o presidente destacou a estratégia do partido em que a cúpula nacional poderá definir os caminhos das coligações estaduais. Em resolução aprovada ontem pela Executiva Nacional, o partido decidiu que todas as chapas nos estados terão que passar pelo crivo da direção nacional antes de ser registrada na Justiça Eleitoral.

"Não admitiremos alianças que desfigurem o núcleo estratégico dos nossos programas de governo, nem tampouco que impliquem concessões de princípio ou perda da identidade partidária", disse Falcão.

REFORMA POLÍTICA

Rui Falcão voltou a defender a reforma política e anunciou que o partido irá apoiar uma iniciativa de movimentos sociais que estão convocando um plebiscito popular para uma Constituinte Exclusiva, prevista para acontecer na Semana da Pátria de 2014.

"A Constituinte Exclusiva é um instrumento fundamental para a realização de uma efetiva reforma política, como a presidenta Dilma e o PT defenderam no curso das manifestações populares de junho", disse.

Além da reforma política, Falcão afirmou ser preciso também realizar reformas em áreas "decisivas e urgentes", como reformas urbana, agrária e tributária, para desonerar a produção e os salários.

Falcão também defendeu a aprovação do Marco Civil da Internet, em tramitação no Congresso, e a democratização da mídia.


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