Folha de S. Paulo


Discurso em defesa de Genoino causa discussão em plenário

Se apresentando como porta-voz do deputado condenado pelo mensalão José Genoino, seu irmão e líder do PT na Câmara, José Guimarães (CE), subiu à tribuna do plenário da Casa no início da noite desta terça-feira (3) para fazer uma homenagem a Genoino, que renunciou ao mandato no início da tarde de hoje.

A fala, no entanto, foi motivo para protestos da deputada Liliam Sá (Pros-PR). Aos gritos, ela disse que "o Brasil não quer ouvir isso". A intervenção foi interrompida pelo presidente da Casa, Henrique Eduardo Alves (PMDB-RN), que pediu respeito.

O discurso de Guimarães faz parte de uma estratégia do PT, que num primeiro momento, decidiu destacar como prioridade a injustiça contra Genoino, além de ressaltar a sua atuação política antes do escândalo do mensalão. "Não subo aqui como líder do PT mas como porta-voz de um deputado que, por suas forças de saúde, não pode vir apresentar a sua carta de renúncia", iniciou Guimarães.

"Genoino sempre foi grandioso nas trincheiras de luta que ele travou pela democracia deste país. [...] Sua história se confunde com a história do PT, da democracia e das pessoas que sempre quiseram mudar este país", afirmou o líder petista.

Falando por quase meia hora, Guimarães enalteceu seu irmão e afirmou que o Congresso sai diminuído do episódio e reafirmou que o pecado dele foi ter sido presidente do PT. Guimarães reclamou ainda da atuação da imprensa e afirmou que a Casa não pode se pautar por "pressões externas". "Tem que agir segundo as normas e as regras", disse.

Segundo Guimarães, o caso é um balizador para o futuro da Câmara. A opinião do deputado é uma alusão à situação dos deputados Valdemar da Costa Neto (PR-SP) e Pedro Henry (PP-MT) que também podem perder seus mandatos por terem sido condenados no processo do mensalão. Ainda da tribuna, Guimarães lembrou que qualquer outro deputado também pode passar pela mesma situação.

"Não iremos permitir que destruam a história do PT. O PT tem uma história, e o Genoino é a expressão da história do PT. Pela história dele, este dia, para mim, diminui o parlamento brasileiro. Talvez o gesto dele de renunciar ao mandato seja maior do que daquele que seria a abertura do processo de cassação", disse.

O discurso gerou mal-estar no plenário. A deputada Liliam Sá (Pros-PR) questionou Guimarães. "O Brasil não quer ouvir isso", disse. "Me sinto envergonhada. Até hoje os mensaleiros não conseguiram se defender. O Brasil não merece isso". Ela foi interrompida pelo presidente da Câmara. Henrique afirmou que ela foi "inconveniente nesse momento difícil". Numa tentativa de mostrar normalidade na relação com o PT, Henrique Alves fez uma intervenção apontando que a decisão foi dura para a Câmara.


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