Folha de S. Paulo


Anac investiga situação irregular de helicóptero apreendido com cocaína

A Anac (Agência Nacional de Aviação Civil) abriu investigação sobre irregularidades no uso do helicóptero da família do senador Zezé Perrella (PDT-MG), apreendido após transportar quase meia tonelada de cocaína.

A investigação ocorre porque o filho do senador, o deputado estadual Gustavo Perrella (SDD-MG), ao negar envolvimento no transporte da droga e responsabilizar o piloto, disse permitir que a aeronave faça transporte ocasional de passageiros mediante pagamento.

Segundo normas da aviação civil, só aeronaves habilitadas como táxi aéreo podem realizar esse serviço.

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No caso em questão, o helicóptero da Limeira Agropecuária, empresa de Gustavo Perrella, uma irmã e um primo, tem registro apenas para transporte particular.

O advogado dos Perrella, Antonio Carlos Castro, o Kakay, disse que os fretamentos eram feitos para ajudar na manutenção da aeronave. Afirmou que houve "três ou quatro" serviços, mas sem fins de lucro, e que irá "resolver" a questão com a Anac.

"Reconhecemos que o uso do helicóptero para frete é questionável, porque não é para táxi aéreo. Vamos assumir isso e resolver essa questão com a Anac", afirmou.

Kakay disse ter pedido ao deputado a relação dos fretes, mas que ainda não a obteve. A assessoria do deputado também não forneceu detalhes sobre os voos.

O helicóptero foi apreendido pela Polícia Federal no interior do Espírito Santo no último domingo (24), após transportar 445 kg de cocaína. Piloto, copiloto e dois receptadores foram presos.

Ao depor à PF nesta semana, Gustavo Perrella disse, segundo Kakay, que autorizou o piloto Rogério Antunes a fazer o frete de um passageiro, mas que jamais soube que ele transportaria cocaína.

O piloto, o copiloto e mais dois homens que carregavam a droga continuam presos no Espírito Santo. A PF diz não considerar por ora a família Perrella suspeita. As apurações continuam. A aeronave passa por perícia para verificar eventual adaptação para transporte de drogas.

Após as prisões, descobriu-se que Gustavo Perrella empregava o piloto preso na Assembleia mineira, onde recebia R$ 1.700 por mês. Funcionário dos Perrella, Antunes foi exonerado do Legislativo após a revelação do caso.

O deputado também gastou ao menos 11,2 mil da verba indenizatória da Assembleia para abastecer o helicóptero apreendido. O senador Zezé, ex-presidente do Cruzeiro, empregou R$ 11,1 mil de sua verba no Senado com o mesmo fim.

O Ministério Público investiga a contratação do piloto pelo deputado e o uso da verba indenizatória. O Legislativo abriu investigação na Comissão de Ética e proibiu que a verba indenizatória seja usada a partir de agora com combustível para aeronave.

Já o Senado informou que o uso da verba indenizatória para combustível de aeronave é permitido.


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