Folha de S. Paulo


Governo retoma obras de transposição do São Francisco em ritmo lento

A presidente Dilma Rousseff disse ontem em Fortaleza que a obra de transposição do São Francisco "está andando". Na prática, contudo, o cenário é outro: rachaduras, remendos, mato e trabalhos em ritmo lento.

A Folha percorreu nesta semana os dois canais da obra --o leste e o norte. Encontrou placas de concreto rachadas sendo remendadas, em vez de substituídas por novas peças.

Rachaduras em obras estão sendo reparadas, diz governo
Mal conservados, canais terão de ser refeitos
Moradores acham que obras vão ser aceleradas em 2014

A transposição ganhou recentemente contornos eleitorais. O presidenciável Aécio Neves (PSDB-MG) exibiu trechos abandonados no programa nacional do partido, o que levou Dilma a cobrar a aceleração das obras.

Ontem, em Fortaleza, a presidente se referiu à obra mesmo sem ser questionada.

"Também a interligação do São Francisco [está andando] antes que você fale para mim que a interligação está parada", afirmou a jornalistas.

A conclusão, prevista inicialmente para 2012, foi remarcada para dezembro de 2015. A construção dos 477 km de canais é a mais cara ação federal de combate aos efeitos da seca no Nordeste.

O orçamento total pulou de R$ 4,6 bilhões para R$ 8,2 bilhões desde o início dos trabalhos, em 2007, durante o segundo mandato de Lula.

Em Floresta, no sertão pernambucano, uma imagem resume o cenário atual: num canal de concreto, vê-se a carcaça de um bode, animal resistente à caatinga, mas que não suportou a uma das piores secas dos últimos 60 anos.

Quando prontos, os dois canais levarão parte da água do São Francisco a rios e açudes de quatro Estados (CE, PE, PB e RN). Para que a água chegue de fato aos sertanejos, são necessárias adutoras, instaladas pelos Estados.

Em 2007, a obra só começou após o governo derrubar ações na Justiça que denunciavam impactos ambientais e negociar o fim da greve de fome de um bispo da Bahia.

A imprecisão dos projetos básicos exigiu novas licitações, renegociação de contratos e interrupção do serviço pelas empreiteiras. Os únicos trechos prontos são dois lotes feitos pelo Exército.

Quem toca a obra é o Ministério da Integração Nacional, até outubro comandado por Fernando Bezerra, indicado pelo provável candidato à Presidência e governador Eduardo Campos (PSB-PE).

Em quatro canteiros, há trabalho 24 horas: Salgueiro e Cabrobó, em Pernambuco, Jati, no Ceará, e São José de Piranhas, na Paraíba. Em geral, porém, o ritmo é lento nos locais onde a obra foi retomada. Operários ainda são contratados em cidades como Sertânia (PE).

Editoria de Arte/Folhapress

Endereço da página:

Links no texto: