Folha de S. Paulo


Henrique Alves diz que até ele poderia ter assinado contratos que incriminaram Genoino

Um dia antes do possível início do processo de cassação do mandato do deputado federal José Genoino (PT-SP), o presidente da Câmara dos Deputados, Henrique Eduardo Alves (PMDB-RN), afirmou em uma conversa informal com quatro parlamentares nesta quarta-feira (20) que até ele poderia ter assinado os papéis que serviram de base para a condenação do petista no processo do mensalão.

Na conversa presenciada à distância pela Folha, Henrique Alves aguardava a chegada de uma comitiva da Armênia, em frente ao prédio do Congresso. Ao iniciarem uma conversa sobre a situação dos condenados no mensalão, Henrique Alves lamentou a situação de Genoino, que sofre de problemas cardíacos e está preso desde a sexta-feira (15) no Complexo Penitenciário da Papuda, em Brasília.

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O presidente da Câmara, então, começou a falar sobre os papéis que embasaram a condenação de Genoino. O peemedebista se referia à assinatura do petista, então presidente nacional da sigla, nos contratos de empréstimos bancários que, segundo a Procuradoria-Geral da República, foram usados para alimentar o esquema do mensalão.

Para Alves, homens públicos em cargos de direção estão sujeitos, várias vezes, a assinar "papéis e cheques" baseados apenas na orientação de assessores, sem saber em detalhes o conteúdo daquilo que estão referendando. Ele citou seu próprio caso, na condição de presidente do PMDB do Rio Grande do Norte.

Questionado sobre a conversa informal, momentos depois, Henrique Alves não quis falar sobre a condenação de Genoino, dizendo que teria que conhecer os autos para se pronunciar e que, na conversa com os deputados, fizera apenas comentários informais. Ele reafirmou, porém, a preocupação com o estado de saúde do petista. A Folha confirmou o teor da conversa com dois dos quatro deputados que estavam ao lado de Henrique Alves.

Genoino foi condenado a 6 anos e 11 meses de prisão por formação de quadrilha e corrupção ativa. Segundo a acusação, ele participou das negociações com os partidos aliados e com os bancos que alimentaram o mensalão e orientou a distribuição do dinheiro do esquema. Em sua defesa, Genoino sempre disse que não lidava com as finanças do PT e que sua assinatura nos contratos dos empréstimos se deu apenas devido à obrigação formal como presidente da sigla.

A Câmara decide nessa quinta-feira (21) o caso de Genoino. Segundo Henrique Eduardo Alves, a Mesa Diretora deve decidir iniciar o processo de cassação de seu mandato --embora ele esteja licenciado por questões médicas até janeiro--, cuja decisão ficará para o plenário da Casa, em votação secreta. Essa orientação destoa da posição do Supremo no caso do mensalão, que decidiu que caberia à Câmara apenas ratificar automaticamente a cassação determinada pela corte.


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