Folha de S. Paulo


Empresa nega que tenha pago propina ao Ministério da Fazenda

Acusada de pagar propina para dois assessores do ministro Guido Mantega (Fazenda), a empresa Partnersnet Comunicação Empresarial nega que tenha mandado entregar dinheiro aos funcionários, diz que a prova apresentada é forjada e que é vítima de um esquema cujo objetivo seria atingir Mantega, um dos ministros mais importantes da equipe da presidente Dilma Rousseff.

A avaliação foi feita pelo advogado contratado pela Partnersnet, Antônio Carlos de Almeida Castro, depois de se reunir no final de semana com o dono e os responsáveis pela empresa em Brasília.

Castro convocou uma entrevista nesta segunda-feira (18) para explicar que a Partnersnet está colocando à disposição da polícia e da comissão interna de investigação do ministério as mensagens trocadas entre funcionários por meio do Skype, assim como pede que o sigilo bancário da secretária que fez a denúncia seja quebrado para comprovar os depósitos realizados.

O registro de uma conversa por meio do programa entre o diretor financeiro da empresa, Vivaldo Ramos, e a ex-secretária Anne Paiva é uma das provas apresentadas pela revista "Época", que publicou a denúncia a partir de relatos da própria secretária.

Segundo a reportagem, Ramos pede para Anne sacar R$ 15 mil e entregar para "Humberto no MF", que seria Humberto Alencar, chefe da assessoria técnica do ministério e fiscal do contrato da Fazenda com a Partnersnet. Ele e Marcelo Fiche, chefe de gabinete de Mantega, seriam os destinatários de R$ 60 mil depositados pela empresas na conta pessoal da ex-secretária.

De acordo com o advogado, Ramos pede para Anne sacar R$ 5 mil que seria depositado na conta dela e entregar o dinheiro a ele. Uma cópia da tela de computador com o registro de 12 mensagens trocadas pelo diretor da empresa no mesmo dia foi entregue por Castro para provar que o texto reproduzido na revista foi forjado por alguém.

"Não estou acusando a revista de ter falsificado nada. Acho que pode ter interesse muito grande por trás disso, alguém que tenha interesse em mudar o ministro, em atacar os assessores especiais. Estamos mexendo com o Ministério da Fazenda, não estamos mexendo com o Ministério da Pesca, com todo respeito, porque nem sei se existe o Ministério da Pesca".

As mensagens estão listadas na sequência de envio e recebimento. Como cada uma delas é numerada, porém, é possível perceber que faltam três mensagens no histórico apresentado pelo advogado. Questionado, Castro afirmou à Folha que não reparou na ordem numérica, mas que todo "sigilo do Skype da empresa" estará à disposição para investigação.

Para o advogado, a Partnersnet é uma empresa pequena e a conta com o Ministério da Fazenda envolve cerca de R$ 4 milhões, valor considerado por ele baixo diante do movimentado nos contratos de publicidade.

"Não acredito que isso é uma questão contra a Partners. Acho que a Partners foi usada nesse negócio. É muito pouco provável que um concorrente teria ousadia de falsificar um documento para fazer uma matéria contra a Partners".

FÉRIAS

Os dois funcionários acusados de receberem propina, Marcelo Fiche e Humberto Alencar, trabalharam normalmente ontem. No início da noite, o Ministério da Fazenda divulgou nota informando que os dois pediram para entrar em férias para, afastados de suas funções, "poderem se defender das acusações publicadas na revista Época".

"O Ministério da Fazenda informa também que Humberto Alencar não ocupa mais a função de fiscal do contrato de comunicação da empresa Partnersnet", diz a nota.

Assim que soube das acusações contra os auxiliares, Mantega pediu que a Polícia Federal investigasse o caso e determinou a abertura de um processo interno de investigação.

Segundo o advogado da Partnersnet, Vivaldo Ramos já teria sido convocado para depor nessa comissão.


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