Folha de S. Paulo


Abin vigiou atividades de líder religioso sul-coreano

Sun Myung Moon, o controverso líder religioso sul-coreano que ficou mundialmente conhecido como reverendo Moon (1920-2012), foi alvo das operações de contraespionagem do governo brasileiro. É o que mostra a documentação sigilosa da Abin (Agência Brasileira de Inteligência) obtida pela Folha.

Agentes se mobilizaram em Mato Grosso do Sul em 2003 para vigiar as atividades de Moon e sua entidade, a Associação das Famílias para a Unificação e Paz Mundial.

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À época, o reverendo comprava grandes extensões de terras no oeste do Estado, numa área de fronteira. O objetivo era criar uma "zona de paz" mundial, mas o governo via no movimento ameaça à soberania nacional, sobretudo em áreas ecológicas que ele adquiria no Pantanal.

A Folha revelou na última semana que o governo vigiou diplomatas estrangeiros da Rússia, Irã e Iraque, além de salas alugadas pela embaixada dos EUA. Eram também ações de contraespionagem.

Jo Yong-Hak-16.ago.12/Reuters
Moon, morto no ano passado
Moon, morto no ano passado

Na Operação "Rio da Prata", a Abin recrutou um informante que atuava no empreendimento de Moon. Os agentes detalharam irregularidades imigratórias, trabalhistas, fiscais e ecológicas nas atividades. O monitoramento começou após a Unificação ser denunciada, em 2002, por lavagem de dinheiro.

Morto no ano passado, o sul-coreano construiu um império bilionário, com negócios espalhados pelo mundo em áreas como mídia e comunicação, automobilismo, material bélico, entre outros.

Em atividade no Brasil desde 1975, a Unificação começou a comprar terras na região do Pantanal a partir da década de 1990. A seita, que professa a família como único meio de felicidade e condena o sexo fora do casamento, ainda tem escolas e inúmeras fazendas no Estado.

O presidente da Associação das Famílias para a Unificação e Paz Mundial, Neudir Simão Ferabolli, disse que não iria comentar o caso por ser "questão meramente governamental". Ele disse tratar-se de uma "brincadeira" o fato de o governo ter visto a entidade como ameaça nacional.


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