Folha de S. Paulo


Celular ilumina casa de família em povoado baiano

No mesmo povoado baiano que Lula visitou em 2006 para celebrar a chegada da eletricidade, uma família só consegue enfrentar o escuro com a luz de um celular.

A situação remete às dificuldades de acesso do Luz para Todos a áreas remotas. Na casa de Edinéia Conceição, 28, no povoado do Paiaiá, em Santo Estevão (BA), a luz não chegou por falta de poste, diz a dona de casa.

O vizinho improvisou um "gato" no poste a 20 metros da casa de Edinéia, mas não houve acordo para que ela também usasse a ligação.

Órfã e sem ajuda dos pais de seus filhos, Edinéia tem a única fonte de renda nos R$ 215 do Bolsa Família. O orçamento apertado não banca as velas necessárias, recurso que ainda traz risco de incêndio: uma tábua já pegou fogo, que quase se alastrou.

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Como a fumaça do candeeiro também causava tosse, o celular de R$ 150 perdeu a função original (também não sobra para créditos) e faz as vezes de lanterna na casa de três cômodos em que Edinéia vive com dois filhos.

E carregar o aparelho já virou rotina: uma amiga empresta a tomada sempre aos finais de semana. "Carrego o celular, mas a bateria dura só até quarta, quinta. Nunca dá para a semana toda", diz.

O filho mais velho da dona de casa abandonou a escola neste ano, e a mãe acha que a falta de luz teve sua culpa.

"Ele fazia [sob luz de velas] uma questão [de tarefa de casa] e parava". Apesar do apagão doméstico, o adolescente acessa a internet em um centro ao lado de casa e mantém conta em rede social.

A Prefeitura de Santo Estevão disse que vai fazer estudos para tentar levar energia até a casa de Edinéia. Informou ainda que o índice de ligações elétricas na área rural da cidade é de 99%.


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