Folha de S. Paulo


Senado enxuga edital, mas mantém compra de filé-mignon e bacalhau para casa de Renan

O Senado lançou novo pregão para abastecer a residência oficial do presidente da Casa, Renan Calheiros (PMDB-AL), com gastos que somam R$ 43,3 mil no prazo de seis meses.

Embora o Senado tenha cortado a compra de alimentos como camarão tipo "G", salmão e queijos tipo roquefort e provolone, o senador vai continuar tendo à sua disposição itens como filé-mignon, bacalhau e mais de 60 tipos de frutas e legumes.

O primeiro edital lançado pelo Senado em outubro, que foi revogado há menos de um mês, autorizava gastos de R$ 98 mil para abastecer a casa de Renan.

Entre as regalias, estavam diversas carnes para churrasco, salmão, camarões, frutas típicas do Nordeste e variados tipos de frios. A nova versão --mais enxuta --do edital cortou alguns supérfluos, mas nem de longe deixa a residência oficial desabastecida.

Alan Marques - 11.jul.07/Folhapress
Prefeitos de Alagoas oferecem jantar para o presidente do Senado, Renan Calheiros, no restaurante Don Francisco, em Brasília
Prefeitos de Alagoas oferecem jantar para o presidente do Senado, Renan Calheiros, no restaurante Don Francisco, em Brasília

Só os gastos com filé-mignon e bacalhau somam R$ 3.200 no novo edital. Os peixes selecionados para a casa do presidente do Senado --filé de abadejo, de linguado, dourada e pescada em postas --vão custar R$ 2.900 aos cofres públicos.

A Casa cortou frutas como lichia, uvas sem caroço, sapoti e nectarina importada. Mas manteve a compra de presunto, peito de peru, sorvetes de "sabores diversos", quatro tipos de queijos, kani e carnes de sol, charque, linguiça calabresa, rabada e toucinho de porco --entre outros itens.

O primeiro edital foi lançado em outubro depois das medidas, adotadas pelo senador, para a redução de gastos na instituição. O presidente do Senado extinguiu o serviço médico da Casa, ampliou a jornada de trabalho dos servidores, cortou horas extras cumpridas após as 22 horas e reduziu os contratos terceirizados pela instituição.

Em contrapartida, manteve tradicionais regalias para os senadores, como gasto ilimitado com celular, compra de gêneros alimentícios para abastecer o "cafezinho" do plenário e frota renovada dos veículos oficiais.

O novo pregão para a residência oficial, assim como o anterior, determina a compra de produtos de limpeza, mercearia geral, enlatados, frios, açougue e frutas in natura.

Segundo o Senado, a nova licitação prevê preços menores que o edital original. A determinação da suspensão da primeira disputa de compra foi da diretoria-geral do Senado, que justificou a medida pela necessidade de impor "medidas de racionalização administrativa e reavaliação dos processos de contratação".

CAFEZINHO

Em junho, a Folha revelou que o Senado lançou edital para gastar R$ 375 mil no prazo de um ano com a compra de lanches os senadores no "cafezinho" do plenário.

O edital estipulava a compra de 2.000 pacotes de biscoito, mais de 8.000 frascos de adoçantes, 4.800 quilos de presunto e queijo, 2.000 pacotes de pão de forma, além de 2.000 litros de leite, chás e sucos, entre outros itens.

Os gastos com o lanche dos senadores e seus convidados têm custo mensal previsto no edital de R$ 31,2 mil.

Depois da reportagem da Folha, o Senado revogou o edital com o argumento de que havia divergência entre o atual contrato que está em vigor e a última compra, feita no ano passado. A revogação foi publicada no "Diário Oficial da União", no dia 17 de junho.


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