Folha de S. Paulo


Para Lula, crítica à política beneficia tiranos que não conseguem votos

Ao receber sua segunda homenagem do dia no Congresso, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva afirmou nesta terça-feira (29) que os protestos de junho foram motivados porque "o povo foi às ruas pedir mais [a presença do] Estado". Numa enfática defesa, o petista afirmou ainda que as críticas à política "servem aos tiranos que não conseguem alcançar o povo pelo voto".

O ex-presidente ainda saiu em defesa do Legislativo sustentando que os ataques ao Congresso estão banalizados e cobrou uma reforma política que possa reduzir a influência do poder econômico nas eleições.

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Segundo o ex-presidente, esses protestos foram inflados pela ideia de que a política não vale nada, um retrocesso de acordo com ele.

"A desqualificação da política e das instituições tem servido aos tiranos, que não são capazes de alcançar o poder pelo voto", afirmou. E completou: "O povo não foi reivindicar a cabeça de nenhum político, nenhum governante, a cabeça de nenhum deputado. O povo foi para as ruas exigir um pouco mais de Estado, para dizer que precisa de mais coisas. Não quer mais comer acém, quer comer contrafilé."

Ao longo de mais de 35 minutos, o ex-presidente fez uma defesa enfática do Congresso e da atuação parlamentar.

"Este é o mais devassado dos poderes, o que mais se expõe à crítica da mídia e ao juízo dos cidadãos. Hoje tornou-se banal criticar o Congresso e tentar desmoralizar a instituição, o que se desdobra na desclassificação da atividade política de maneira geral", disse.

Lula disse que não há nada mais nobre do que o "exercício do mandato parlamentar". "O cidadão concursado presta concurso e morre naquele emprego. A cada quatro anos o político tem que fazer um novo concurso para votar para cá", disse.

Ele recomendou aos congressistas que é preciso "ter coragem para mudar o que deve ser mudado" e disse que o "Parlamento e os partidos serão mais forte na medida que essa Casa se esforçar para voltar a ser vista como Casa do povo".

O ex-presidente afirmou que não é possível ter medo da participação popular no Legislativo e pediu que o Congresso aprimore a relação. O petista defendeu que uma reforma política poderá "requalificar os partidos" e defendeu o financiamento público de campanha para evitar a influência do poder econômico nas eleições, desequilibrando a disputa.

Segundo ele, com o financiamento público, será possível ter maior equilíbrio, inclusive ao direito de informação.

Lula citou programas de seus oito anos de governo e destacou a parceria com o Legislativo. Ele disse que sempre que os jornais traziam em suas manchetes que o governo foi derrotado, nem sempre essa era a sensação porque às vezes o projeto teria sido aprimorado.

Líder do PT na Constituinte, ele voltou a afirmar que o partido não aderiu ao texto final porque defendia mais direitos.

O petista foi acompanhado pelo ministro Alexandre Padilha (Saúde) que ficou ao seu lado o tempo inteiro e ganhou referência em seu pronunciamento quando Lula citou o programa Mais Médicos, que destina médicos para regiões carentes do país. Padilha é pré-candidato do PT ao governo de São Paulo e deve deixar o governo em janeiro.

Lula recebeu a medalha "Suprema Distinção" que destina-se a "agraciar os soberanos, chefes de Estado, altas personalidades estrangeiras e nacionais que, pelos serviços relevantes realizados em sua atuação pública". Ele também foi homenageado com a medalha Ulysses Guimarães, por sua participação nos trabalhos de elaboração da Constituição de 1988.

O presidente da Câmara, Henrique Eduardo Alves (PMDB-RN), destacou ações do governo Lula para justificar a homenagem.

"Poucas personalidades da nossa história influíram tanto no destino da nação quanto Lula. Desde o início de sua trajetória política foi protagonista de acontecimentos que mudaram o Brasil".

O peemedebista afirmou que Lula foi responsável por introduzir uma "pujança econômica e a diminuição da desigualdade social". Segundo ele, o governo do ex-presidente fez com que os brasileiros perdessem o complexo de inferioridade.

Responsável pela indicação de Lula, o deputado Simão Sessim (PP-RJ) rasgou elogios ao petista e afirmou que "nesse país suprema distinção tem nome e sobrenome".

O líder do PT, José Guimarães (CE), destacou que Lula foi um revolucionário em toda sua história de vida. "Soube como nenhum outro presidente empreender um projeto de transformação que é referencia no mundo", disse. "Você é ancora da democracia. Presidente Lula, eu te amo", completou.


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